Estrangeiros estão preocupados com “deterioração” fiscal no Brasil

Londres – O aumento de gastos promovido nos últimos meses pelo governo vem ganhando cada vez mais relevância no radar dos investidores estrangeiros. Em relatórios para clientes, analistas de bancos de investimentos alertam que cresceram os riscos sobre o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e ressaltam que o atual processo de deterioração fiscal poderá retardar uma queda mais acelerada das taxas de juros reais, frear a velocidade do crescimento econômico e atrasar a conquista da tão ambicionada classificação de risco de "grau de investimento". Por isso, segundo eles, a retomada do processo de reformas no País se torna a cada vez mais urgente.

Embora acredite que o governo cumprirá a meta de superávit primário de 4,25% do PIB neste ano, José Carlos de Faria, economista sênior do Deutsche Bank, avalia que os riscos de que ela não seja alcançada aumentaram. Além disso, ele lembra que o governo manteve essa meta até 2009, mas cancelou o teto para os gastos federais correntes propostos no ano passado. Isso, segundo Faria, sugere um compromisso menor com o controle de gastos.

"Embora a perspectiva econômica de curto prazo do Brasil continue muito positiva, a deterioração das contas fiscais levanta uma bandeira vermelha e ressalta a necessidade urgente do Brasil voltar a lidar com reformas estruturais após as eleições", disse o analista. "O fracasso na contenção de gastos e na implementação de reformas poderia atrasar a promoção do Brasil ao grau de investimento e desacelerar o declínio nas taxas de juros reais."

Segundo cálculos do Deutsche Bank, diante da atual tendência do déficit da Previdência Social e dos gastos na área social, para manter um superávit fiscal primário de 2,5% do PIB (que é compatível com um superávit primário consolidado do setor público de 4,25% do PIB, contabilizando-se um superávit de 0,7% do PIB para as empresas estatais e de 1,1% do PIB para os Estados e municípios) sem aumentar impostos, o governo federal terá que cortar "outros gastos correntes e investimentos" dos 4 1% do PIB registrados em 2005 para aproximadamente 3,1% do PIB até 2009. "Como o investimento público já está num nível muito baixo, isso seria uma noz difícil de ser quebrada", disse Faria.

Para o economista Ricardo Amorim, do WestLB, o Brasil está desperdiçando uma "oportunidade excepcional" para reduzir ainda mais os juros e crescer mais. Ele observou que nos últimos anos, em meio a condições externas extremamente favoráveis e políticas macroeconômicas sólidas, o Brasil melhorou muito seus fundamentos e reduziu suas vulnerabilidades. "Ainda assim, as taxas de juros continuam substancialmente mais altas e o crescimento do PIB substancialmente menor do que de outros mercados emergentes", disse Amorim.

"As baixas taxas de juros internacionais criam uma oportunidade única para se reduzir gradualmente as taxas de juros do Brasil para os padrões globais e elevar o crescimento do PIB desde que as contas fiscais continuem a melhorar e a dívida pública a declinar. Mas, nos últimos meses, as contas fiscais se deterioraram."

Amorim observa que o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB , um feito que já foi encarado como quase uma certeza, "agora é questionado por muitos investidores". Segundo ele, os resultados fiscais provavelmente continuarão se deteriorando nos próximos dois meses e em abril, o resultado acumulado dos últimos 12 meses poderá cair para abaixo dos 4% do PIB. "A conquista de um superávit de 4,25% do PIB neste ano ainda está longe de ser impossível", disse Amorim. "Entretanto, a recente deterioração fiscal poderá se tornar um obstáculo sério para futuros cortes nos gastos, desperdiçando uma oportunidade excepcional para o País melhorar suas perspectivas potenciais de crescimento através de uma redução mais rápida da relação entre a dívida e o PIB, do corte da carga tributária e através da melhora da competitividade do setor privado e do aumento do investimento público", disse o analista.

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