Estou escutando barulho, papai!

Os efeitos da atual campanha do desarmamento (“entregue tua arma que não te protejo”) aos poucos serão conhecidos. De nada adiantarão teorias que inspiraram esse precipitado projeto publicitário. O tempo, só o tempo e algumas vidas sacrificadas terão o poder de aviventar os rumos.

Recentemente o advogado curitibano Alexandre Salomão nos narrou que um amigo de outro ponto do Brasil, até então fervoroso adepto do “desarmamento”, foi acordado noite dessas por sua filha: “Estou escutando barulho, papai!” Como ele, hipnotizado pela “campanha”, tinha entregue a única arma que possuía, acolheu a filha em sua cama dizendo para ela ficar com sua mãe, enquanto telefonaria para a polícia. Pegou o celular, já imaginando que o invasor poderia ter cortado o fio do telefone fixo, e ligou.

A experiência foi decepcionante. Em primeiro lugar a demora no atendimento do telefone e a gravação do infindável “aguarde” (e a filha abraçada com a mãe na cama à espera de providências, olhando amedrontada para o pai). Depois de alguns centímetros cúbicos de suor frio, atendeu uma pessoa que respondeu algo mais ou menos assim: “O senhor está achando que vamos mandar uma viatura até ai só porque sua filha lhe acordou dizendo que escutou barulho?”

Naquele momento, descobriu ele que o valor de uma arma em casa, para proteção de sua família e de sua própria vida, é infinitamente maior do que o atribuído pelo movimento “obaobista”. Ainda que para fazer barulho e espantar o possível invasor até a polícia chegar, se é que chegará para agir preventivamente. Além de poucos policiais, viaturas e equipamentos, têm eles certamente “coisas mais importantes” para fazer nas noites brasileiras que acudir e acalmar aquela família em pânico.

No caso do nosso exemplo, aquele pai foi criativo e, com voz firme de general gritou ao acender as luzes de toda a casa e das áreas externas: “Tereza! Acorde o Inácio e o Sebastião e diga para eles pegarem as armas e sair dar uma vasculhada aí fora para ver que barulho é esse!” Felizmente tudo acabou bem, se tinha ou não algum invasor, só Deus sabe. Mas a lição prática ministrada foi tal que está nosso personagem comprando outra arma para ter em casa como opção e reforço às facas de cozinha e rolo de macarrão para a proteção da família.

Em situação igual, se der tempo de blefar de noite, como o nosso personagem fez, além da voz firme, saiba inventar nomes (Sebastião ou Inácio. Jamais “Sandrinho”… use Sandrão!). Caso contrário, quando a ciência e argumentos não convencem, as mudanças somente ocorrem com mártires. É fácil fazer experiências com vidas e seguranças alheias…

Elias Mattar Assad (eliasmattarassad.com.br) é presidente da Associação Paranaense dos Advogados Criminalistas.

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