A economia brasileira começou o ano em ritmo mais forte comparado ao que aconteceu em 2006, mas na indústria os sinais de reação ainda não são claros. Segundo empresários e economistas, depois de um Natal fraco, o setor virou o ano com nível elevado de estoque. Isso indica uma redução das atividades nas fábricas, para a desova de parte da produção que ajudou a engordar o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas geradas no País) do último trimestre do ano passado.
"A alta do PIB no trimestre, de 3,8% em relação ao mesmo período de 2005, foi acima do esperado, apesar dos subitens da demanda e oferta terem ficado parecidos", diz o economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados. "Isso sinaliza que houve acúmulo de estoques, fruto de um Natal que não foi tão bom quanto o esperado e da concorrência das importações.
Para o economista, o crescimento de 2007 deverá ser maior do que o do ano passado (2,9%), mas ele ainda considera cedo para fazer qualquer previsão de um número superior a 3,5%. "O cenário só vai ficar mais claro no segundo trimestre’, diz. "A indústria ainda tem fôlego curto, porque precisa se ajustar, o que deve se refletir no PIB do primeiro trimestre.
O acúmulo de estoques é confirmado por Paulo Francini, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Parte do resultado do último trimestre foi estoque", afirma. O movimento não foi registrado, porém, pela Sondagem Conjuntural da FGV.
Segundo Francini, os dados do Indicador do Nível de Atividade (INA), que mede o desempenho da indústria paulista, capturaram esse "fenomenozinho". Em janeiro, o INA cresceu 0,8% sobre dezembro, descontado-se as variações que normalmente ocorrem entre os dois períodos. "O resultado foi puxado pela venda de estoques formados no fim de 2006." Ao contrário do INA, a conta do PIB considera apenas o valor agregado na produção, sem contar as vendas do setor.
No segmento de produtos químicos de uso industrial, as vendas cresceram 3,66% em janeiro sobre dezembro, interrompendo trajetória de quatro meses de quedas consecutivas, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). A redução no último quadrimestre de 2006 é atribuída, em parte, a uma formação antecipada de estoques preventivos na cadeia produtiva.
"Janeiro foi muito bom, porque as indústrias estavam com estoque baixo de matérias-primas e voltaram a comprar, mas fevereiro já não foi bem", afirma Guilherme Duque Estrada, vice-presidente da Abiquim.
As vendas da indústria contribuíram para o aumento do fluxo de caminhões nas estradas. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), o movimento de veículos pesados aumentou 4,5% em janeiro ante o mesmo mês de 2006. Na comparação com dezembro, considerando os ajustes sazonais, o aumento foi de 0,4%.