O déficit hídrico registrado nas principais regiões cafeeiras já está comprometendo a próxima safra. Levantamento do Conselho Nacional do Café (CNC) junto aos seus associados, e com base em dados da Fundação Procafé, mostra que haverá redução no potencial produtivo dos cafezais para a safra 2007/08.
Segundo a Fundação Procafé, a planta suporta déficits hídricos de até 150 milímetros sem grandes prejuízos ao seu desenvolvimento vegetativo e sem conseqüências significativas para a safra do ano seguinte. No entanto, o balanço hídrico aponta para um déficit de 230 milímetros até o presente momento. Aliado a isso, as previsões climáticas indicam uma primavera com chuvas irregulares no sudeste, com o retardamento da regularização das precipitações, que tendem a se normalizar no decorrer de novembro.
É normal haver redução de chuvas nesta época do ano nas regiões cafeeiras. Porém, além de quantidade menor de precipitação na estação da seca, a partir de junho, as chuvas foram inferiores à média nos meses de abril e maio, quando ainda deveriam ser regulares. Dados históricos levantados pelo extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) e pela Universidade de São Paulo (USP) mostram que a produtividade do café é alta em anos que, no período de maio a setembro, as precipitações foram superiores a 200 milímetros (54 arrobas por 1000 cafezeiros) e, quando as chuvas são inferiores a 100 milímetros, a produção cai para 16 arrobas por 1000 cafezeiros. As precipitações deste ano, neste período, estão 43% abaixo da média, somando 79 milímetros, no sul de Minas Gerais. Associado às chuvas escassas, as altas temperaturas durante o dia, aliada à inversão térmica à noite, aumentam o desgaste da lavoura.
Os percentuais de perda e danos à lavoura variam conforme a região. A próxima safra já será naturalmente menor por causa da bianualidade, mas com a estiagem a previsão é de que haja uma quebra adicional. ?É cedo para mensurarmos o quanto vamos ter de quebra adicional na próxima safra, mas os cafezais já estão apresentando um esgotamento?, diz Marcelo de Moura, gerente do Departamento de Gestão do Agronegócio da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso).
No levantamento realizado pelo CNC, a região mais atingida é o sul de Minas Gerais. Na Cooperativa dos Cafeicultores de Campos Gerais e Campo do Meio (Copercam), estima-se um déficit superior a 180 milímetros, com comprometimento adicional de até 30% da produção futura. Na área de atuação da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas Ltda (Cocatrel), a falta de água é superior a 200 milímetros. ?Com a temperatura alta e a seca, a produtividade pode cair entre 10% e 20%, além da perda natural provocada pela bianualidade?, diz Roberto Felicori, gerente do Departamento Técnico da Cocatrel.
O mesmo processo de esgotamento dos cafezais verificado em Minas Gerais é observado em São Paulo. Na área de atuação da Casul, as folhas das plantas estão murchas e, com uma pequena precipitação de cerca de 15 dias, abriu uma florada que, diante do quadro de escassez de água, não deverá vingar. Na Alta Mogiana Paulista, o déficit hídrico acumulado é de 170 milímetros.
No Paraná também houve florada antecipada que pode ser comprometida se as chuvas não se regularizarem. No Espírito Santo, a quebra estimada para a próxima safra é de 15%. Segundo o presidente da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel Ltda (Cooabriel), Antônio Joaquim de Souza Neto, as plantas se ressentiram com a estiagem do início do ano e com as inversões térmicas ocorridas entre maio e agosto.
?Sem dúvida, a próxima safra, que seria naturalmente menor, por causa da bianualidade, estará ainda mais comprometida pela seca. Isto torna o mercado mais ajustado, pois o Brasil precisa de safras médias de 42 milhões de sacas para atender ao consumo interno e à exportação?, diz Maurício Miarelli, presidente do CNC. O conselho é composto por associações e cooperativas que juntas têm mais de 65 mil cafeicultores e respondem por aproximadamente 40% da safra nacional de café.