A forma insólita e ofensiva usada pela deputada petista Ângela Guadagnin (SP) para comemorar a absolvição de seu colega de bancada na Câmara dos Deputados, João Magno (MG), acusado de ter recebido dinheiro do valerioduto, rebolando o volumoso traseiro no plenário da Casa, foi o atestado de óbito do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
Horas antes, o plenário havia ignorado o parecer desse mesmo conselho, livrando da perda do mandato o deputado Wanderval Santos (PL-SP), que transferiu a responsabilidade do saque de R$ 150 mil das contas de Marcos Valério (a ele imputada) ao ex-deputado Carlos Rodrigues, que renunciou.
Uma pantomima digna da manifestação da deputada paulista, já com o plenário esvaziado, é verdade, mas mesmo assim inusual num ambiente em que são discutidas e encaminhadas as grandes questões nacionais.
Em primeiro lugar, os eleitores da deputada Ângela Guadagnin deverão se perguntar se fizeram a melhor escolha em confiar à referida senhora a missão de representá-los na Câmara e, por extensão, ao mais poderoso estado da federação, que mereceria algo superior.
Depois, ao lado do dado definitivo de quão inócuo tornou-se o Conselho de Ética, com o sétimo parecer pela cassação de mandato jogado ao lixo pelo plenário, o eleitor já firmou a convicção de que a enorme pizza está sendo deglutida pela esculhambação política vigente.
A prontidão com que o espírito de corpo tem se manifestado entre os congressistas na salvaguarda do mandato de colegas claramente envolvidos no escândalo do mensalão permite supor que os renunciantes deveriam aguardar o julgamento generoso dessa maioria hoje consolidada no anonimato invencível do baixo clero.
Transformando o plenário da Câmara dos Deputados numa autêntica gafieira, a deputada Ângela Guadagnin enlameou um sagrado recinto da ordem democrática, onde pontificaram figuras da estirpe de Rui, Raul Pilla, Bento Munhoz, Pedroso Horta e Ulysses Guimarães, para ficar apenas com esses exemplos de grandeza cívica e moral.
