Dizer que muitos dos males do Brasil também existem em outros países, inclusive nos desenvolvidos, é um consolo inconseqüente. Revidar as críticas que lá de fora nos fazem dizendo que são males nossos e ninguém tem nada a ver com nossas mazelas é buscar uma escusa para nossa incapacidade de fazer do Brasil um país mais sério. De Gaulle disse um dia que o Brasil não era um país sério e ficamos patrioticamente ofendidos. Mas continuamos sendo um país quase nada sério.

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A globalização, que em tantos aspectos repudiamos, existe também no campo da informação e na formação do conceito que de nós fazem outros povos. Conceito não muito diferente do que nós mesmos fazemos deste nosso país. Entretanto, para ver com clareza as coisas é sempre melhor olhá-las de uma conveniente distância. Se estamos no palco, participando como intérpretes ou figurantes da novela, é bom que ouçamos o que diz a platéia.

O jornal norte-americano Los Angeles Times publica que depois de cinco meses de revelações chocantes, um dos piores escândalos de corrupção da história do Brasil pode simplesmente terminar em ?pizza?. As conseqüências do mar de lama em que os poderes desta república se envolveram pode ficar apenas na cassação de José Dirceu e algumas renúncias de deputados. Não se espera que os mais recentes escândalos no governo causem maiores danos ou levem a reformas. O sistema tem regras rotineiramente exploradas por políticos para evitar punições ou a perda de poder.

O Los Angeles Times aduz à sua análise uma conclusão que temos medo de confessar: muita gente está cansada de ver tantas acusações serem feitas. Isso é uma boa notícia para o presidente Lula. Ele pode reeleger-se porque há um forte cheiro de pizza no ar, descrença de que alguém seja punido e a nação brasileira já está com sua paciência esgotada.

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Nesta semana foi revelado que o primeiro-ministro do Canadá está envolvido num caso de corrupção. Conseqüência: renunciou ao cargo. Aqui, as poucas renúncias que tivemos foram de parlamentares. E renunciaram numa confissão de culpa e para, aproveitando-se de uma legislação eleitoral frouxa, poderem ser candidatos já no ano que vem, escapando da pena de inelegibilidade que um julgamento e uma condenação política causariam.

O Clarín, prestigioso jornal argentino, comenta a ?narcojustiça?. Traficantes punindo com dois tiros, um em cada mão, uma criança de 13 anos acusada de roubar um telefone celular numa favela do Rio. O El Mundo, da Espanha, publica reportagem sobre os esquadrões da morte ativos no Brasil com envolvimento de policiais. E acrescenta que as autoridades e mesmo muitos cidadãos acham que não é preciso estabelecer as causas desses assassinatos. Perdemos a capacidade de indignação.

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Por fim, o The Independent, de Londres, falando dos Jogos Indígenas de Fortaleza, diz que depois de séculos sendo levados à quase extinção, os nossos silvícolas estão reagindo, lutando e procurando restabelecer traços perdidos de sua cultura. Lendo esses jornais, a platéia internacional pode estar pensando que o Brasil é um país acossado pela selvageria. E não estará muito longe da verdade.