O especialista em administração municipal professor Diogo Lordelo de Melo, como presidente do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), uma vez realizou importante seminário, presentes centenas de prefeitos. Naquela época, prefeitos do interior do País eram duramente criticados por enfeitar suas cidades com praças e chafarizes luminosos, desperdiçando dinheiro público, quando em suas comunas faltavam serviços essenciais.
Na ocasião, chegou-se à conclusão de que essas obras suntuárias não significavam em si desperdícios, na medida em que servissem para a "difusão espacial do bem-estar social".
As pequenas cidades podem e devem ser bonitas. As populações do interior têm direito a escolas, moradias, segurança, serviços de saúde e até pracinha para os passeios da comunidade, enfeitadas com chafarizes luminosos. É preciso fazer com que as comunas interioranas sejam agradáveis e tenham serviços suficientes para reter suas populações, evitando o inchaço das grandes cidades, criando megalópoles onde vivem milhares, milhões de pessoas, os problemas se multiplicam e as soluções passam a ter custos insuportáveis.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística publicou sua pesquisa "Tendências Demográficas". Os otimistas, analisando os números oferecidos, entendem que cidades brasileiras cresceram. Os pessimistas, que nada menos de 27,2% encolheram. As razões apontadas são muitas, algumas delas meras conjecturas.
Um dos movimentos migratórios mais notáveis ocorridos no Brasil, e que já dura décadas, é o deslocamento de populações do norte do Rio Grande do Sul, geralmente descendentes de italianos, agricultores experientes, primeiro para o oeste e sudoeste de Santa Catarina e Paraná e posteriormente para Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e, rumo ao norte, até Rondônia. Aí, não se trata da fuga de maus serviços públicos. O que ocorreu é que aquela população gaúcha, descendente de italianos, é constituída de famílias numerosas e, via sucessão, a terra foi sendo dividida entre os herdeiros, tornando-se insuficiente para o plantio extensivo e rentável. Agricultores competentes, foram em busca de novas terras e colonizaram várias regiões do País.
Na pesquisa, chama a atenção o fato de que muitas cidades que encolhem têm aumentado o número de seus analfabetos, o que sugere que a educação é um fator determinante na decisão de mudar de cidade. Assim acontece nos países adiantados, onde uma má escola simplesmente esvazia a cidade. As famílias mudam-se para onde há melhor ensino. No Brasil, o ensino médio competente e a existência de ensino superior determina, muitas vezes, a movimentação de famílias. Desejosas de que seus filhos estudem, não se conformam em ficar em pequenas cidades onde tais serviços não são oferecidos. O mesmo pode-se dizer dos serviços de saúde. Se não há postos e hospitais, havendo a necessidade de deslocamentos longos e caros, melhor mudar para onde a vida esteja mais protegida.
O motivo principal dessas migrações é o emprego. A mudança acontece para onde há mais oferta de trabalho e empregos com melhor remuneração. Onde não há empregos e o trabalho que ainda existe é penoso e mal pago, ninguém quer ficar. E nas cidades esvaziadas, escolas fecham por falta de alunos, casas boas são abandonadas, os serviços públicos (água, luz, esgoto, telefone, etc.) ficam ociosos. E tudo isso vai faltar ao migrante na cidade grande, cada vez mais inchada e febril.