No governo FHC e também no de Lula, há consenso sobre a necessidade de estabilidade para garantir crescimento. Estabilidade financeira, econômica, política e social, criando condições para crescimento também econômico, político e social, com caixa para bancar a conta. No governo passado, o partido de Lula e os seus aliados pregavam que era possível e até desejável arriscar a estabilidade financeira para que fosse possível obter o crescimento econômico e o atendimento das demandas sociais. Sob o comando de Pedro Malan, ministro da Fazenda, o governo FHC foi inflexível no ajuste fiscal, acreditando piamente na necessidade da estabilidade financeira, mesmo que ao custo de um menor ou até inexistente crescimento econômico e um pífio atendimento às necessidades sociais. A estabilidade política foi sempre preservada.
Lula, uma vez no governo, adota a mesma política de estabilidade seguida por FHC, considerando-a indispensável para a obtenção do crescimento. A diferença é que a adota de forma ainda mais rigorosa que o governo passado, aproveitando o espetacular prestígio com que chegou ao poder. A posição é irrepreensível e os paradoxos do atual situacionismo, embora estranháveis, o máximo que farão será plantar desconfianças que influirão no próximo pleito, conforme os resultados colhidos da aplicação dessa política de economia monástica. Para o Fundo Monetário Internacional, que não se cansa de elogiar o governo Lula, porque este age exatamente de forma diversa do que pregava enquanto aspirante ao poder, aprova a atual política econômico-financeira. Também aprovava, porque era a mesma, a de FHC. Só que aplaude mais Lula que Fernando Henrique Cardoso, pois em pontos essenciais, como o nível do superávit primário necessário para a rolagem da dívida do País, o atual governo é mais exigente do que o anterior. Mesmo aplaudindo, o FMI ainda vê vulnerabilidade na economia brasileira, pelo excesso de endividamento e baixo nível de crescimento econômico. Um diagnóstico correto e óbvio, que mais serve para incentivar a continuidade da atual política do que como crítica.
A queda do risco-Brasil e o comportamento decrescente do dólar em relação ao real confirmam a recuperação paulatina junto ao mercado, que volta a investir no Brasil. Mas já há quem veja o Brasil como o “queridinho” dos investidores, tema que aqui já abordamos, não como uma constatação, mas como uma possibilidade, face à escassez de campos de pouso seguros para investimentos internacionais, principalmente depois da guerra EUA/Grã-Bretanha versus Iraque.
O Financial Times, prestigioso jornal britânico editado em Londres, escreveu que o Brasil virou moda em Wall Street. O texto diz que os mesmos investidores que temiam uma moratória do Brasil há apenas seis meses, hoje lutam para comprar títulos e papéis verde-amarelos. Ressalta que a mídia brasileira não fala em moratória e, sim, nos caminhos possíveis para o crescimento econômico. O risco financeiro é o alto endividamento. O econômico é o baixo índice de desenvolvimento. Mas o maior é o político, não porque o governo Lula ameace a democracia, mas porque pode, seguindo o caminho certo, demorar tanto para atender as demandas da sociedade que sofra uma perda de prestígio irrecuperável.