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O trânsito tornou-se uma guerra. É a disputa pelo seu próprio espaço, não importa quem está na frente e não é à toa que o índice de acidentes cresce a cada dia que passa. Para mudar este quadro foi instituído o novo Código de Trânsito Brasileiro, trazendo novos artigos e também penalidades mais severas. Alguns meses após seu lançamento verificaram-se índices bastante satisfatórios quanto à redução dos acidentes. Isso se deve, justamente, pelo medo que o motorista tinha pelas conseqüências atribuídas, pelas faltas cometidas e, principalmente, por desconhecimento do novo código, que traz um texto com uma linguagem clara (com algumas exceções) para o cidadão comum.

Mas o que vemos é um problema cultural. Estamos acostumados a não nos informar. Somos acomodados, por isso é mais fácil reclamar das leis do que entender a sua real função.

Além disso, os motoristas estão cada vez mais estressados. E não poderia ser diferente. O crescimento da frota de veículos não é compatível com a infra-estrutura viária do País. Por isso mesmo é que os congestionamentos estão deixando de ser privilégio dos grandes centros e se tornando comuns também nas cidades médias.

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E isto acarreta uma série de problemas, não só em termos de tráfego, mas, principalmente, quanto à saúde física e mental das pessoas.

É o funcionário que chega atrasado no trabalho, as crianças que perdem o horário de entrada na escola, o paciente que não chega a tempo na consulta com o médico ou o dentista, enfim, uma série de inconvenientes que vão sobrecarregando o motorista.

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Como se perde cada vez mais tempo parado em engarrafamentos, é natural que o motorista descarregue todo seu estresse no trânsito. Por isso, qualquer barbeiragem é motivo para xingamentos, buzinadas, gritos, gestos obscenos. Hoje em dia é muito comum a falta de paciência nas ruas e estradas do nosso País. É por isto que o trânsito está um verdadeiro caos. Com chuva então, vira um pandemônio.

E tem solução?

Esta pergunta parece sem resposta, mas é tudo uma questão de educação. É importante compreender o funcionamento do trânsito, para que possamos interagir cada vez melhor com este ambiente do nosso cotidiano, respeitando o sistema de normas e regras, bem como uns aos outros. Fazendo do trânsito um exercício de convivência pacífica.

Não é porque você levou uma fechada, que precisa ir atrás e tirar satisfações. Os motoristas precisam entender que o trânsito não é toma-lá-dá- cá. Pelo contrário. É preciso cordialidade geral para que tudo flua com naturalidade. E dentro das regras.

Pensando nisso, em 1997 foi implantado o novo código de trânsito brasileiro, para garantir o direito de ir e vir de qualquer cidadão, determinando normas e regras de comportamento para facilitar um deslocamento seguro para toda a sociedade.

Sete anos se passaram e os acidentes, ao invés de diminuir, dobraram. Concluímos que nos primeiros meses do novo código os acidentes diminuíram pelo medo dos motoristas quanto às conseqüências. Porém, hoje, como nem tudo é cumprido ou fiscalizado, as pessoas voltaram a ser imprudentes a ponto de despreocupar-se com a própria vida e a dos outros.

Diante deste contexto, vimos que nem sempre uma norma mais rígida ou penalidades pesadas, modificam a situação. Precisamos investir em educação para o trânsito. Educar para que as pessoas tenham noção de como o seu comportamento influencia na vida dos outros e esta educação não depende somente das autoridades, mas de cada um de nós que temos o comprometimento com toda uma sociedade a partir do momento que nos tornamos motoristas.

São pequenos gestos que fazem a grande diferença e também o respeito ao próximo. Abrir mão, às vezes, do seu direito em benefício do bem comum e organizar e administrar as situações conflitantes com cortesia e bom senso pode tornar o trânsito mais humano e seguro.

Mas esta mudança de atitude deve partir não só dos motoristas, mas sim de todos aqueles que participam do trânsito, "contaminando" uns aos outros e formando uma corrente em favor da vida.

Que os acidentes de trânsito não sejam mais uma das maiores causas de morte neste País. Não devemos banalizar a vida como vem acontecendo a cada dia no trânsito.

Sonia Mari Straube Bório é Educadora e Gestora de Trânsito e Transporte.