Sidney Ferreira Leite

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As eleições presidenciais norte-americanas chegaram a um momento decisivo.

Os resultados das primárias realizadas até o momento deixaram claro que a disputa será muito acirrada, pautarão a mídia e o debate eleitoral até a ?superterça?, quando estarão mais claros os indicados pelos dois principais partidos: Democrata e Republicano. Porém, cabe ressaltar que nem sempre quem ganha no início leva a indicação do partido ou êxito na eleição presidencial. George H. W. Bush, em 1980, e o senador Bob Dole, em 1988, obtiveram grandes vitórias em Iowa, mas foram ultrapassados por Ronald Reagan e G. W. Bush, respectivamente. Bill Clinton sequer disputou essa primária, mas deu impressionante arrancada, que o levou à Casa Branca por dois mandatos.

A vitória de Mike Huckabee em Iowa, por exemplo, demonstrou que o conservadorismo norte-americano não está morto. A ?América Profunda? vive e, no momento certo, emergirá das cinzas. Nesse contexto, o ex-governador do Arkansas tem como estratégia principal ocupar o espaço do eleitorado conservador, peso decisivo nas campanhas eleitorais. Esses eleitores devem estar muito preocupados com as perspectivas de êxito eleitoral dos Democratas, notadamente de um jovem senador negro reformador ou de uma mulher corajosa que tem como palavra de ordem a mudança. O candidato Huckabee é contra o aborto e casamento de homossexuais, favorável a medidas duras contra os imigrantes ilegais e defensor intransigente da família.

Posições que sempre polarizam as eleições norte-americanas e agradam à ?América Profunda?.

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A ascensão de John McCain em New Hampshire aponta para um segmento forte do Partido Republicano, que entende ter esse senador mais chances de derrotar o candidato democrata no final do ano, pois é mais bem preparado, marcou certa oposição às medidas do atual governo e tem um passado de herói na Guerra do Vietnã. Em suma, nada está decidido entre os republicanos. Além disso, ele vem quebrando resistências dentro do Partido Republicano e recebido apoios importantes, como o do ex-candidato Rudolph Giuliani.

O democrata Barak Obama, vencedor em Iowa e na Carolina do Sul, tem o objetivo estrutural de encarnar o desejo de mudança de parte do eleitorado.

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Senador por Illinois, ganhou destaque ao votar contra a invasão do Iraque.

Tem posições avançadas quanto às políticas interna e externa e conta com a simpatia de importantes segmentos da mídia. Todavia, contraditoriamente, votou a favor do muro na fronteira com o México. São as idiossincrasias do liberalismo norte-americano. Há um fato muito importante. Até o momento, ele é o candidato que caiu nas graças da mídia que fecha os olhos, por exemplo, para os financiadores de sua campanha, personagens que terão dificuldades para entrar no reino dos céus.

A surpreendente vitória de Hillary em New Hampshire e o êxito em Nevada e Flórida demonstram que o legado de seu marido está vivo. Além do trabalho de base e bastidores, Bill Clinton foi à mídia e apontou contradições ao até então intocável Obama. Foi assustador ler, no dia seguinte, que o êxito de Hillary deveu-se ao fato de ter chorado e conquistado o voto feminino. Em outras palavras, homens votam com razão e mulheres com coração. Machismos à parte, algo também parece nítido: a disputa pela indicação dos Democratas será emocionante.

Estamos ainda no instigante campo das conjecturas e reflexões. Nessa senda, as primárias realizadas até a ?superterça? parecem estar mais próximas da onda que chega à areia e vira espuma do que para um tsunami surpreendente e devastador. Mas, essa afirmação somente poderá se confirmar após a ?superterça?. De fato, na quarta-feira de cinzas saberemos quais serão os dois candidatos que disputarão a presidência do país mais poderoso do sistema internacional.

Sidney Ferreira Leite é consultor do núcleo de negócios internacionais da Trevisan Consultoria e coordenador do curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios.