As marchas e contramarchas em que se envolveu o bivaque político-partidário brasileiro foram bater no desaguadouro inevitável. A oposição começou a falar com maior desenvoltura, nessas últimas horas, do pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por responsabilidade em crime eleitoral.
A hipótese arrepiante foi amadurecida diante do espetáculo ominoso do recrudescimento das denúncias de utilização de caixa 2 nas campanhas eleitorais do PT e demais partidos da aliança lulista.
O convencimento dos parlamentares do PSDB e PFL ficou patente após a acareação promovida pela CPMI do Mensalão, entre Delúbio Soares, Marcos Valério e Valdemar Costa Neto. O ex-deputado e presidente nacional do PL confirmou o recebimento dos R$ 6,5 milhões repassados pelo publicitário mineiro e usado o dinheiro no pagamento de despesas da campanha da dupla Lula-José Aparecido, no segundo turno.
Tendo em vista que o valor não foi declarado na prestação de contas da campanha de Lula ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, sendo o candidato o responsável pessoal pelos gastos eleitorais e sua escorreita escrituração, entendeu o senador José Agripino Maia (PFL-RN) que houve a prática de crime eleitoral.
Diante desse sério indício – que deve ser apurado com proficiência – a oposição partiu para o confronto definitivo e alguns de seus condestáveis passaram a deblaterar sobre o pedido de impeachment do presidente.
Complicador adicional para o PT e seus dirigentes foi a entrega à secretaria da mesa do Senado do pedido de abertura da CPI exclusiva do caixa 2, pleiteada pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), como resposta imediata ao cerrado fogo dirigido pelos petistas a seu colega Eduardo Azeredo (MG), que em 1998 valeu-se de empréstimo de Marcos Valério para pagar dívidas da campanha ao governo do estado.
A enxurrada de denúncias e acusações de parte a parte, algumas eivadas de solércias e outras muito próximas da crua realidade, transformou a ribalta política num atemorizante desfile de atrocidades, cada uma mais cabeluda que a antecedente, tornando improcedentes quaisquer prognósticos sobre o desfecho.
O País está à mercê duma crise instalada que não dá mostras de arrefecimento. Se o custo da conquista da democracia plena é esse, está-se exigindo em demasia da sociedade.
