O professor de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves, acredita que a candidatura do diplomata brasileiro Luiz Felipe Seixas Corrêa ao cargo de diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) depende do "critério da docilidade".
Segundo Gonçalves, a decisão é dada por consenso dos 148 países que compõem a OMC e, os Estados Unidos (EUA) e a União Européia (EU) têm poder de veto. Desta forma, ninguém toma posse se não for com o aval de um deles. É neste ponto que entra o pré-requisito da docilidade.
"Este não é um cargo técnico, mas político. Não se trata de competência técnica, mas de confiabilidade política. Então, todo e qualquer candidato, seja da OMC ou do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial, tem que ter a idéia da docilidade, frente aos interesses dos EUA e da UE. Que seja um cidadão, suficientemente político, que não vá impor restrições aos interesses deles", explicou.
O professor acrescentou que os europeus e os americanos só aprovariam um nome brasileiro se entendessem que se trata da indicação de um grupo de dentro do governo brasileiro, interessado em promover a carreira diplomática e política desse cidadão. Segundo ele, além disso, ele precisa ser "dócil". Gonçalves disse também que a aprovação dependeria de o governo fazer apenas uso doméstico do cargo. "Isso significa a chamada diplomacia presidencial, em que o governo brasileiro pode faturar em cima disso e dizer que o Brasil está forte a ponto de ter um diretor-geral da OMC", explicou.
Do contrário, se percebessem que o Brasil tem a intenção de usar o cargo para alavancar interesses, ganhar projeção internacional, ou contrariar norte-americanos e europeus, o candidato seria vetado.
Segundo Gonçalves, o atual diretor-geral, que é tailandês, se enquadra nesses critérios. "É uma figura dócil e em nenhum momento enfrentaria os interesses mais robustos do sistema econômico internacional", disse.
Para Carlos Pio, professor de economia política internacional da Universidade de Brasília (UnB), Seixas Correa é respeitado na comunidade internacional. Segundo ele, o embaixador do Brasil em Genebra tem desempenhado um papel relevante dentro da OMC. "Não apenas na representação do Brasil, mas também no desempenho de funções institucionais", afirmou.
O problema, segundo Pio, não é o candidato, mas o fato de o Brasil não conseguir posição majoritária entre os países desenvolvidos. "Nas questões comerciais, o Brasil acredita no enfrentamento com países mais fortes, especialmente com os Estados Unidos. Neste sentido diria que estas não são chances confortáveis", ressaltou.