Vários interlocutores bem posicionados nas cúpulas do governo e da oposição, por enquanto sem a adesão do PFL, trocam idéias sobre a estratégica tramitação de emenda constitucional extinguindo a reeleição em todos os níveis, dos prefeitos ao presidente da República, passando pelos governadores estaduais.
A medida, cuja análise está apenas começando, tira o presidente Lula da disputa em 2006, mas em compensação concede espaço concreto para a garantia da governabilidade e condições para levar até o final o processo de esgotamento sanitário do mar de lama que assola a vida republicana. O presidente Lula, é compreensível, não manifestou simpatia pelas conversas.
O diálogo em torno do tema foi iniciado por políticos do PT e do PSDB, com especial interesse manifestado pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, os senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o deputado federal Sigmaringa Seixas (PT-DF), um ex-tucano.
A idéia foi inicialmente ventilada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando sugeriu a Lula desistir da reeleição, tendo em vista o potencial de exacerbação da crise e desestabilização das instituições. Observadores viram aí um recado direto do ex-presidente, ele mesmo o incentivador do instituto da reeleição, agora propondo o arquivamento da medida.
Um dos ganhos imediatos será a distensão do ambiente político carregado vivido em Brasília, embora muitos afirmem que extinguir a reeleição significa antecipar o atestado de óbito do governo. Há quem diga que a expressão teria sido verbalizada pelo próprio presidente, emparedado entre a exoneração de amigos fraternos e a perspectiva da cassação do mandato de José Dirceu, dentre as quinze que o entrevero no Congresso permite esboçar.
Fator que pode complicar a aparente calmaria produzida pelo cancelamento da reeleição é o crescimento político do vice-presidente José Alencar, até aqui a salvo da ação dos petardos disparados contra o governo. Apesar dos estilhaços respingados sobre o Partido Liberal, Alencar navega em águas tranqüilas, podendo animar-se a remar para o mar alto.
Esse é um desdobramento que a oposição não gostaria de incluir nos planos de voltar ao governo no próximo ano. Como cantou Lupicínio Rodrigues, e Roberto Jefferson repete em péssima embocadura, o momento exige nervos de aço.