Com os cinco sentidos treinados, ?malhando? de regra dezesseis horas por dia na ?academia? do exercício da profissão (quando não se sonha com partes, processos, tribunais, etc.), os profissionais do Direito adquirem um aguçadíssimo ?sexto sentido? ou intuição quase infalível.

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Dia destes, diante da televisão e rotineiras cenas folclóricas de telejornais, o desgraçado da república e órfão do estado de direito, escolhido como ?bola da vez?, era um reitor da Universidade de Brasília. Enxovalharam-no! Imaginação do momento: Será que esse homem é tão vil assim para ser de pronto sentenciado, executado e publicamente execrado? Qual será o seu pecado que de tão grave ninguém pensou em previamente lhe assegurar o direito a um devido processo legal e a inviolabilidade de sua honra? Pior, isto em Brasília que é berço da Constituição e leis federais, sede das mais altas cortes da justiça! O que julguei de mais grave foi ter como cenário um centro de excelências que é a UnB.

Prosseguindo na análise silenciosa para avaliar onde aquele homem poderia ter errado conclui que tudo deve ter iniciado por ter escolhido a carreira de professor e, por seus próprios méritos estar entre eles exercendo liderança em uma terra que não valoriza o ensino, nem tem preservado direitos fundamentais. Claro, que no pensamento demagógico reinante, reitor de universidade pública tem que andar a pé, de ônibus ou no máximo com um carro velho e ele ousou com a aquisição de um automóvel novo para a Instituição. Quanto ao apartamento da reitoria somente deveria ser ?funcional? na denominação onde nem torneiras deveriam funcionar sem elásticos e arames enrolados em meio a móveis velhos e embolorados pela umidade das paredes… Banheiros? Não custa nada o reitor utilizar o da padaria no momento de comprar pão… Ter um apartamento um pouco melhorado é dinheiro jogado fora. Afinal a temperatura de Brasília admite banhos frios e que se durma confortavelmente em redes…

Reflitamos, sem ironizar com o trágico: teria a Universidade de Brasília, pelos seus doutos integrantes, se equivocado tão gritantemente ao escolher uma pessoa como o reitor? Teria ele errado tanto assim, com seus assessores, no momento de interpretar regulamentos e decidir o que fazer ou no eleger prioridades?

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Se minha intuição não engana, o estado de direito que a Constituição Federal prometeu não é este! Se esse homem sempre teve uma vida correta e provar sua inocência, teria ganho de nossa Pátria mãe um escândalo como troféu.

Elias Mattar Assad é presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas. eliasmattarassad@yahoo.com.br