O fundador da locadora norte-americana Avis escreveu em um de seus livros que toda empresa deveria ter um vice-presidente cuja função seria andar de sala em sala, fuçando as mesas e abrindo as gavetas. E sempre que encontrasse papelada inútil, rasgaria escandalosamente, berrando alguns nomes feios. O autor dessa esdrúxula idéia deve tê-la aproveitado, pois ficou milionário não só com a empresa Avis de aluguéis de automóveis, mas comprando empresas à beira da falência e recuperando-as, com certeza berrando muitos nomes feios e rasgando muita papelada inútil.
Testemunha um colega de jornal que há algumas décadas a hoje exemplar entidade Sesi/PR tinha uma divisão de abastecimento que geria cerca de quatorze grandes armazéns para venda de produtos mais baratos aos industriários. No escritório, essa divisão tinha cerca de dez funcionários, cujo papel era preencher certos formulários, um trabalho cansativo, feito durante oito anos. Um dia, um jovem e novo funcionário, menino de uns 16 anos, resolveu perguntar para que servia aquela papelada toda que ia para pastas de arquivo e, depois, sabe lá para onde. Ninguém soube responder. O jovem investigou por conta própria e descobriu: a papelada não servia para nada e, na medida em que se acumulava, ia para um depósito de inutilidades. Comida de ratos. Extinta, a papelada não fez falta e ainda liberou funcionários para trabalhos úteis.
Pois nos acusam, a nós brasileiros e a todos os latino-americanos, de excesso de burocracia, corrupção e ausência de regras claras no cumprimento da lei. E que esses pecados vêm impedindo o crescimento do continente nos últimos anos. Quem faz a acusação é o subsecretário do Tesouro dos EUA para Assuntos Internacionais, John Taylor, e nem o mais ferrenho antiamericanista irá negar-lhe razão.
Na opinião de Taylor, “a região poderia crescer de forma continuada, acima dos 4% previstos para o ano que vem, se mantivesse o foco na solução dos seus principais problemas”. Precisamos crescer, pois temos muita pobreza, desemprego e desigualdades sociais. Mas, como lembra a autoridade norte-americana, aqui e nos demais países latino-americanos é muito difícil abrir um novo negócio. E, acrescentaríamos, é também dificílimo tocar um negócio já existente e evitar que ele morra prematuramente.
Conforme dados do Banco Mundial, para abrir novas empresas na América Latina são precisos 80 dias. Na África, 70, e na Ásia, 50. A burocracia emperra a iniciativa dos empresários. Se examinarmos o processo nos países desenvolvidos, uma empresa média pode ser aberta em apenas 30 dias. No Brasil, a burocracia vai aos extremos, entupindo de papelama o mais paciente dos empresários e muitas vezes fazendo-o desistir de instalar um novo negócio. O Brasil é o país de maior demora. Em média, são necessários 152 dias para se abrir um novo negócio. Na Austrália, bastam dois dias.
Existe um “Grupo para o Crescimento”, formado por representantes dos Estados Unidos e do Brasil. Taylor colabora com esse grupo e lembra que a América Latina terá de competir, cada vez mais, por investimentos, inclusive dos países desenvolvidos. A burocracia é, sem dúvida, uma das principais causas do nosso atraso. A corrupção e a ausência de regras claras, também. Enquanto isso, países mais ágeis vão captando os investimentos que nos fazem falta.