Sugestões sobre como promover a inclusão dos negros nos bancos brasileiros foram feitas hoje pelos participantes de reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, marcada para debater o projeto de mapeamento das contratações de funcionários por essas instituições. A pesquisa, que deve ser concluída no próximo ano pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), indicará raça, faixa etária, escolaridade e gênero desses funcionários.
O presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), Humberto Adami, por exemplo, sugeriu que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) acompanhem o projeto. Ele também defendeu as ações civis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho contra os bancos.
As instituições financeiras, disse Adami, oferecem desculpas não-convincentes para a baixa presença de negros em seus quadros. "Existe a estimativa de que os bancos tenham em seus quadros 2% de negros. Primeiro, disseram que as cotas não serviam e, então, o que se pergunta é por que não há negros lá. Sempre há a desculpa de que é um problema de capacitação, de educação, que é um problema social e não racial", afirmou.
Diálogo
Em resposta a Humberto Adami, o diretor da organização não-governamental (ONG) Educafro, frei David Santos, disse que a entidade quer suspender algumas ações que pedem a contratação de negros pelos bancos. Entre elas, está uma ação contra o Itaú em Brasília, banco que, segundo o frei, mostrou-se disposto a dialogar.
"Nós não queremos o conflito", disse. Frei David acredita que o caminho judicial pode ser mais longo para a inclusão dos negros.
Adami, por outro lado, informou que já ingressou no Ministério Público Federal com uma representação para questionar a baixa presença de negros também nos altos cargos da Igreja, do Itamaraty e do Exército. Ele explicou que vai fazer o mesmo em relação à Petrobras, onde o ingresso de funcionários é feito por concurso público e deveria, em sua opinião, contar com um sistema de cotas para negros.
Evolução
O diretor de Relações Institucionais da Febraban, Mário Sérgio de Vasconcelos, afirmou que não há uma meta para a quantidade de afrodescendentes em cada instituição. "A quantidade deve ser evolutiva. Então, se hoje você tem 5%, amanhã tem que ter 6%, 7%, 8%", explicou.
O representante do Ministério Público do Trabalho Clóvis Curado sugeriu que a Febraban amplie a pesquisa em relação ao grau de escolaridade, não se restringindo a quem tenha ensino médio completo ou qualificação mais avançada. Mário Sérgio Vasconcelos destacou, no entanto, que 90% dos empregados de bancos têm nível superior completo ou incompleto. Ele avalia, portanto, que o mapeamento de diversidade não precisa incluir informações sobre funcionários que tenham ensino médio incompleto.
Pré-questionário
A Comissão de Direitos Humanos fará nova reunião sobre o assunto no dia 13 de dezembro. Na ocasião, a Febraban apresentará um pré-questionário sobre diversidade racial para análise das demais entidades que debatem o assunto.