Entenda como funcionava o esquema de fraudes descoberto pela PF

Brasília – Após dois anos de investigação da Polícia Federal e da Receita Federal, a Operação Dilúvio começa a desmontar o maior esquema de fraude em importação de mercadorias já identificado no país. A apuração revelou que o grupo empresarial por trás do esquema importou mais de US$ 1,1 bilhão nos últimos quatros anos, declarando o valor das mercadorias em média pela metade do preço real.

Pelo esquema de subfaturamento, a estimativa é que a sonegação chegue a mais de US$ 500 milhões apenas em tributos federais de importação, sem levar em conta outros impostos, como Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Imposto de Renda.

A estimativa dos investigadores é que cerca de 20 mil empregos deixaram de ser criados por causa da sonegação. A organização atuava em São Paulo, com ramificações em outros sete estados (Paraná, Santa Catarina, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Espírito Santo) e também nos Estados Unidos.

Nos últimos dez anos, o grupo registrou dezenas de falsas empresas de importação, conhecidas como tradings, além de distribuidoras que intermediavam as operações de forma a impedir a identificação do real importador. Os empresários atuavam com a compra dos mais diversos produtos, como aparelhos eletrônicos, equipamentos de informática e de telecomunicações, material de ortopedia, alimentos, roupas, carros e pneus.

Os principais clientes estão localizados no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Na maioria dos casos, as tradings registravam as importações como se tivessem sido realizadas por conta própria. A venda dos produtos era registrada para empresas de fachada também controladas pela própria organização grupo, acobertando o cliente final. Mas a negociação de fato – definição de preço, condição de pagamento, quantidades, etc. – ocorria sempre entre os reais compradores e as empresas estrangeiras.

Os clientes finais, de acordo com a investigação, muitas vezes tinham conhecimento da irregularidade e até tinham participação ao declarar preços subfaturados. Além da sonegação dos impostos de importação, essas empresas se beneficiavam com a quebra da cadeia do IPI e pelo uso ilegal de incentivos do ICMS concedidos pelos estados.

As investigações identificaram também que o grupo constituiu diversas empresas para promover uma "blindagem patrimonial". Isto era feito com o uso de empresas offshore do Uruguai, Panamá, Ilhas Virgens Britânicas ou Estados Unidos, para ocultar não apenas a participação dos principais dirigentes das empresas de fachada como também a relação entre elas. Para manter o esquema, a investigação identificou que o grupo empresarial praticava, além da sonegação, evasão de divisas, cooptação de servidores públicos, interposição fraudulenta e falsidade ideológica e de documentos.

Segundo o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Jarbas Saad, os produtos chegavam a grandes lojas, que devem ser identificadas a partir da análise dos documentos apreendidos nesta quarta-feira (16) em residências e empresas dos envolvidos e dos clientes, depósitos de mercadorias, escritórios de advocacia e de despachantes e colaboradores.

Uma das tradings, criada no início da operação da quadrilha, foi citada no relatório final da CPI da Pirataria, no Congresso Nacional, por envolvimento na rede de abastecimento para o esquema de Law Kim Chong. Outro cliente do grupo, de acordo com Saad, era a loja de luxo Daslu, já citada em outra investigação da PF por se beneficiar de esquema de sonegação de impostos.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo