Estamos chegando à época dos vestibulares nas principais universidades brasileiras. As matrículas estão custando pelo menos meio salário mínimo. Se aprovado, o estudante vai ter pela frente de 4 a 5 anos de investimento no aprendizado e muito sacrifício pela frente. Quem tem poucos recursos então acha tudo pela hora da morte.
Numa análise fria do investimento que se faz no estudo e na compensação financeira que poderá gerar posteriormente, isso se encontar mercado de trabalho. De qualquer forma é melhor ficar preparado. Ou então optar por um curso técnico, cujos custos também são exorbitantes.
Lembro que um amigo, agora, recentemente, fez um curso de chefe de cozinha numa das mais conceituadas escolas da cidade, pagando em torno de R$ 500,00 a R$ 600,00 por mês durante um ano. E ao contrário de sair contratado para um grande restaurante, está à procura de uma colocação no mercado.
Acaba de sair decepcionado de uma multinacional que lhe ofereceu a oportunidade de dirigir o seu restaurante, com uma produção mínima de 2.500 refeições/dia, para ganhar, pasmem, R$ 900,00 ao mês.
É estarrecedor ficar diante de uma realidade dessas. Um jornalista recém-formado, por exemplo, entra para o mercado de trabalho com um salário mínimo da classe em torno de R$ 1.200,00. Isso é menos do que ganha uma diarista que tenha o seu mês completo. Folgando quatro domingos do mês e recebendo em torno de R$ 35,00 a R$ 40,00 por dia, a diarista levanta ao final de uma jornada mensal em torno de R$ 1.050,00 a R$ 1.200,00, sem nunca ter passado por um banco escolar ou despendido seu tempo em livros ou estudos. Isso sem falar que ganha vale-transporte, comida e ainda recebe roupas e outros presentes do patrão. R$ 1.200,00 ao mês é o faturamento de um empregado taxista.
Mas esse baixo salário não é privilégio de jornalistas. Há outros tantos profissionais com curso superior que ganham igual ou até menos que isso. Voltamos então ao minguado salário de um professor primário na rede pública de educação, que agora, mais do que nunca, forçosamente tem que possuir curso superior.
Algo está errado em tudo isso: as escolas estão cobrando alto demais e pagando muito pouco. Tanto que a multiplicação de faculdades nos últimos anos foi assustadora. Em qualquer esquina existe a oferta de cursos superiores, com mensalidades a peso de ouro. No entanto, quando o professor formado por elas tenta uma vaga, o que lhe oferecem de pagamento é algo tão igual ou inferior à mensalidade de um aluno.
Isso quer dizer que o estudante tem que possuir cacife para ser dono de escola ou então estará jogando por terra todos os anos de ensino a que se dedicou. É de se chegar a pensar se às vezes não vale a pena sair por aí lavando prato e limpando chão. Ou ter vocação para jogar futebol, ser cantor ou artista de TV ou ainda se candidatar a algum cargo público. Triste a nossa realidade. Ensino caro, aprendizado médio e ganho muito baixo.
Osni Gomes osni@pron.com.br jornalista e editor em O Estado, escreve aos sábados neste espaço.
