Enredo compromete desfile da Portela no Rio

Com um enredo difícil e mal executado (pobre e pouco criativo), a Portela não se saiu muito bem na segunda noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca. A escola decidiu falar da inclusão digital como forma de aproximar as pessoas de diferentes classes sociais e desfilou fantasias inspiradas no mundo dos computadores, tão repetitivas quanto de difícil compreensão. A tradicional azul e branco, no entanto, é muito querida pelo público, que a saudou carinhosamente do início ao fim na Sapucaí.

A ideia era explorar as possibilidades da internet. Os carnavalescos Alex de Oliveira e Amaury Santos localizaram no Rio de Janeiro experiências de resultados positivos, como a instalação de banda larga em favelas ocupadas e pacificadas pela polícia – tema do último carro, “Rio de Paz para viver”, no qual vieram a capitã da Polícia Militar (PM) Pricilla Azevedo, responsável pela ocupação do Morro Dona Marta, na zona sul, e mais sete policiais.

Este e os outros carros da Portela não impressionaram. Alguns pecaram pela extrema simplicidade e outros, pela difícil associação com o enredo. Nas alas, fantasias lembravam recursos do computador, como “atalho”, “arquivos”, “senhas”. Os destaques foram o abre-alas, em que a águia da Portela apareceu cibernética, e o carro que fez alusão a um parto efetuado não por um médico, mas por um robô.

O samba, que tem entre seus autores o sambista portelense Diogo Nogueira, não é considerado um dos melhores deste ano, embora tenha seus defensores, como o compositor Ivan Lins, que desfilou cantando muito. “Saio há três anos. A emoção é tão grande que vou às lágrimas. O tema é difícil, mas o samba é muito bonito e traz uma mensagem de paz.”

Falta de verba

O presidente da Portela, Nilo Figueiredo, sabia que o enredo era desafiador. “Não é difícil de entender, mas é difícil de desenvolver. Só tem que se temer se não há recursos, e esse até é o nosso caso. Mas vamos trabalhando”, disse Figueiredo, minutos antes do início do desfile. A falta de dinheiro (apesar do patrocínio da empresa Positivo, maior fabricante brasileira de computadores, citada indiretamente no samba) era visível: as fantasias estavam mal acabadas, com peças caindo, e faltaram adereços para alguns componentes.

Alheia às dificuldades, a rainha de bateria, Juliana Portela, estreante, passou bem na avenida, superando o nervosismo que antecedeu ao desfile. “Estou muito nervosa por substituir a Luma de Oliveira (que desfilou pela agremiação no ano passado). Eu sempre vim para a avenida ver a Luma passar, independentemente da escola em que ela estivesse. Ela é muito elegante, a rainha da passarela, como diz o samba da Portela. Sou ‘fãzona’.”

Juliana contou que foi escolhida graças à pressão da comunidade, que organizou um abaixoassinado em seu favor. É funkeira, mora em Madureira, em frente à quadra, e sai na Portela há dez anos. Aprendeu a sambar com uma criança da escola. É uma rainha desconhecida, o que é raro hoje no Carnaval do Rio.

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