O governo Lula abriu as portas do Palácio Itamarati, dias 29 e 30 de outubro/2003, para uma centena de convidados estrangeiros e nacionais guiados pelas ministras Dilma Rousseff (Minas e Energia) e Marina Silva (Meio Ambiente) com o apoio da diplomacia brasileira, trio que produziu discursos conceituais na direção do desenvolvimento sustentado, carinho com o meio ambiente e energia redentora para a fatia dos socialmente excluídos. Os visitantes: ministros de vários países sul-americanos e do Caribe. A agenda: “Energias Renováveis”, e isso em ações preparatórias (desde já) para a Conferência Mundial, no mesmo tema, acordada para Bonn, Alemanha, em junho de 2004, já batizada com a simpática sigla “renewables 2004”. As palavras-chave do evento brasiliense foram : biomassa (como tal oriunda de vegetais replantáveis ou na forma de etanol e bagaço; um pouco de biodiesel), ventos (muitos, os da energia eólica), sol para valer (placas coletoras trocadoras de calor e painéis fotovoltaicos) e PCHs (Pequenas Centrais Hidroelétricas, ou seja, abaixo de 30 megawatts; Itaipu tem potência instalada de 12.600 MW !). Curiosidade praticamente nada em combustível do futuro ou hidrogênio, a não ser o benefício maximizado da nossa parcela na permanente ardência no astro-Rei e que no caso do Brasil propicia uma intensidade de insolação das mais interessantes e que nos permitirá na safra corrente colher mais de 120 milhões de toneladas de grãos.
O convidado de honra, Jurgen Triffin, ministro alemão para o Meio Ambiente, proferiu substantivo discurso moreno e verde que facilitaria, não fosse o teuto-biotipo, confundi-lo com quaisquer dos ministros sul-americanos ali presentes. Um de seus conceitos mais marcantes: a adoção da bandeira das energias renováveis não é assunto de competição mas de coalizão (like-minded persons and countries). A razão para isto é simples: se nada for feito de forma mais intensa para mitigar os efeitos da queima progressiva de derivados de petróleo, aliado ao desmatamento irresponsável e se confirmada a projeção que no curso do século 21 o “efeito estufa” fará a temperatura média global subir entre 1,4 e 5,8.ºC, a fusão das geleiras das calotas polares começará afogar a todos pobres e ricos. Os netos (bisnetos na melhor das hipóteses) pagarão então a conta do coletivo de avós menos responsáveis.
Ambiente refinado mas igualmente democrático, o encontro cedeu a palavra ao representante do Foro Brasileiro de ONGs (Organizações Não-Governamentais) que distribuiu e fez leitura, na íntegra, de seu documento de 4 laudas: formulação esclarecida e soando a documento técnico elaborado por engenheiros elétricos; tendo um pouco de tudo, desde biocombustíveis até “desconto” especial aos devededores do FMI (Fundo Monetário Internacional) que colaborarem para atingir ou ultrapassar os ditames do Protocolo de Kyoto-1997 ou da Cúpula de Johannesburgo- 2002.
Em linguagem quase que uníssona (a regionalidade do evento não permitiu estender convite ao seleto grupo dos países macro-poluidores e ao mesmo tempo recalcitrantes; a Alemanha está mais para a exceção) todos estão mais vocacionados para sequestrar muito carbono (o que efetivamente faz a clorofila de quem tem muito verde, caso do Brasil) ao invés de integrar a categoria dos compradores de créditos de carbono ou megaprodutores de monóxido e dióxidos de carbono, enxofre e nitrogênio.
Os convidados paranaenses foram o Lactec, a Copel e o Cerbio / Tecpar / Seti-PR. O primeiro estendeu a todos convite para a inauguração de sua sede nova na festa natalina cuja iluminação estará a cargo de uma célula combustível e como representante dos terceiros, fizemos as perguntas de animação aos ilustres conferencistas da Cepal Comissão Econômica para a América Latina e Caribe e Pnuma Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A 1.ª: se os mapas via satélite (aqueles que exibem a realidade apenas em duas cores, o verde para a mata e o vermelho para o desmatamento) constam do documental de avaliação de usos da biomassa. A última, como a América Latina e Caribe contribuem com as estatísticas apresentadas pela Argentina de 2,8 bilhões de pessoas no mundo ganhando menos de US$ 2 / dia e 1,6 bilhões que não tem qualquer acesso à energia elétrica e qual parcela é a pobre e qual é a miserável. Respostas polidas de todos palestrantes desafiados. A pergunta mediana: se é realista pensar em favelas com painéis fotovoltaicos pela ótica de custo. Esta mereceu dupla reposta do MME. O complemento foi uma preciosa aula de troca de calor e interconversão de formas energéticas brindada por ferluz@mme.gov.br, cujo nome dispensa comentários pois “fer” é de Fernando mas também é sigla para “Fontes de Energias Renováveis”! (consultem-no, vale a pena!). Contou que 1 kg do já ótimo óxido de silício baiano sai daqui por US$ 1 e retorna por um valor que v. leitor não é capaz de imaginar.
José Domingos Fontana
é coordenador pro-tempore do Cerbio Centro Brasileiro de Referência em Bicombustíveis do Tecpar / SETI-PR, pesquisador 1A do CNPq, Prêmio PR-1996 de C&T e orientador de PG no Depto. de Farmácia da UFPR.
