O Paraná perdeu recentemente (01/09/2004) um de seus proeminentes homens públicos, o ex-senador Enéas Faria que chegou à Câmara Alta do país do mesmo jeito que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ambos se beneficiando de um dos casuismos do regime militar, instaurado em 1964.
Enéas e FHC concorreram ao Senado em 1978 pelo antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em uma das sublegendas. Os eleitos foram José Richa e André Franco Montoro, que em 1982 venceram para Governador do Paraná e de São Paulo e, consequentemente, se tornaram Senadores com o mérito de terem sido escolhidos pelo voto do povo.
Enéas já vinha de outras porfias, sempre defendendo as liberdades democráticas. Líder estudantil, presidiu a União Paranaense dos Estudantes Secundários (UPES) e no ano de fundação do MDB, em 1966, concorreu a deputado estadual para ajudar o partido. Em 1968 ele galgou seu primeiro mandato como vereador, época em que eu presidia o MDB de Curitiba.
Somente o veterano vereador Arlindo Ribas de Oliveira tinha optado pelo MDB, pois todos os demais bandearam-se para a Arena. Apesar dos esforços do Secretário Geral Silvio Sebastiani, do 1.º Vice Presidente Marcos Bertoldi e dos meus próprios, Deputado Federal mais votado do MDB no Paraná e de todos os partidos em Curitiba (obtive oito por cento dos votos válidos), não conseguimos completar chapa para a vereança, tal o pavor de enfrentar o arbítrio e os poderosos do momento.
Arrostando todas as dificuldades, o MDB conseguiu eleger 7 vereadores: Enéas Faria, Adhail Sprenger Passos (o mais votado), Maurício Fruet, Adalberto Daros, Aroldi Armstrong, Admar Bertolli e Arlindo Ribas de Oliveira (reeleito). Enéas, Fruet, Daros e Adhail seguiram luminosa carreira político-eleitoral e eu fiquei na estrada, com o mandato de Deputado Federal cassado no ano seguinte (13 de março de 1969) pelo AI-5, após o fechamento do Congresso pela ditadura em 13 de dezembro de 1968.
Enéas Faria reelegeu-se Vereador em 1972 e na “Revolução pelo voto” em 1974 elegeu-se deputado estadual com 87.000 votos, a maior votação até hoje no Paraná, proporcionalmente ao eleitorado. Em 1978, conquistou a suplência de Senador e em 1982 venceu para Deputado Federal, permanecendo pouco tempo no exercício do mandato, porque ascendeu ao Senado com a posse do José Richa no Palácio Iguaçu, em março de 1983.
No Senado, Enéas destacou-se na defesa intransigente de teses nacionalistas, democráticas e de amparo aos trabalhadores, granjeando a admiração de seus pares que o elegeram 1.º Secretário da Mesa, cargo que apenas outro paranaense havia ocupado, o ex-governador Ney Braga.
O Senador Enéas Faria foi um dos organizadores do 1.º Comício das Diretas Já, na Boca Maldita, Curitiba, em 1984, passo pioneiro da empolgante campanha nacional que aluiu os alicerces do regime. Embora derrotada a emenda constitucional das diretas, a avalanche popular gerou as condições para Tancredo de Almeida Neves derrotar Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, pondo fim ao período discricionário, que se alongou por duas décadas. Por sinal, Enéas foi um dos principais articuladores da candidatura do então governador de Minas Gerais à Presidência da República. Como 1.º Secretário do Senado, coube a Enéas Faria em março de 1985 ler o termo de posse do presidente José Sarney, Vice de Tancredo, submetido na véspera à cirurgia, morrendo 36 dias depois.
Eleito suplente de Senador em 1986 pela sublegenda do MDB, Enéas voltou ao Senado nos anos 90, no tempo em que o Senador Afonso Camargo Neto exerceu o Ministério dos Transportes, no governo Fernando Collor de melancólica memória. Afastando-se da política, Enéas Faria retomou suas atividades de advogado e na área de comunicação rádio, jornal e televisão onde atuava com destaque no começo de sua brilhante vida política. Em 1997, juntamente com seu companheiro de atuação político-partidária Silvio Sebastiani, lançou o livro “Governadores do Paraná a História por quem Construiu a História”, com o depoimento de 16 ex-governadores do Estado.
Ainda se pranteava a irreparável perda do Enéas Faria quando adveio o falecimento (26/09/2004) de outro expoente dos ideais getulistas, trabalhistas e democráticos, o Major Alberto Weinhardt Borges, combatente da FEB, ex-diretor da Casa do Expedicionário, condecorado por atos de heroísmo com as Medalhas de Combate e de Sangue.
Ficam para as atuais e futuras gerações os exemplos de idealismo, desprendimento e devoção à Pátria de personalidades que se consagraram às pugnas cívicas em favor do povo e pela grandeza do Brasil.
Léo de Almeida Neves
ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil. Autor dos livros “Destino do Brasil: Potência Mundial, Editora Graal, RJ, 1995, e “Vivência de Fatos Históricos”, Editora Paz e Terra, SP, 2002.