Dois dos quatro corpos desaparecidos no acidente com o navio de bandeira chilena Vicuña, de propriedade da Sociedad Naviera Ultragas, que explodiu na noite de ontem no Porto de Paranaguá, já tinham sido encontrados na tarde de hoje, mas ainda não foram oficialmente identificados. Pela manhã, um corpo mutilado e carbonizado foi resgatado quando boiava nas proximidades da Ilha das Cobras e o outro foi encontrado por pescadores, por volta das 15 horas, próximo à lha Seca Rasa, na saída da Baía de Paranaguá. Outros 24 tripulantes tinham sido levados para um hotel logo depois da explosão.
O Corpo de Bombeiros passou o dia tentando controlar o incêndio que tomava conta do interior do que restou do navio. A dificuldade era o labirinto interno no navio e o desconhecimento dos bombeiros sobre todos os compartimentos. "Não temos estimativa de quando será apagado o fogo", disse o tenente Eduardo Pinheiro.
Na hora da explosão, o navio ainda estava com 5 milhões de litros de metanol, produto tóxico e inflamável, além de 1,2 mil toneladas de óleo bunker – combustível do navio, e outras 150 toneladas de óleo diesel. De acordo com o secretário de Estado do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, até a tarde de hoje o diesel ainda não havia vazado. Sobre os outros dois produtos ainda não se sabia a quantidade derramada no mar e nem se continuava vazando.
No entanto, uma mancha já podia ser observada por mais de 4 quilômetros, atingindo várias ilhas e até a baía de Guaraqueçaba. Em razão disso, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiram uma portaria proibindo a pesca, o consumo de peixes, o uso da água e o mergulho na área afetada. Apesar das várias barreiras de contenção jogadas no mar a mancha de óleo já chegava à área de mangue.
"É um problema adicional", lamentou Cheida. Peixes e aves mortos já tinham começado a aparecer na baía.
Responsabilidade
Os levantamentos sobre a responsabilidade pelo acidente serão feitos pela Capitania dos Portos e pela Polícia Federal, com auxílio de seis peritos brasileiros e dois ingleses. A explosão aconteceu no momento em que o navio já tinha descarregado 9 milhões de litros de metanol nos tanques da Cattalini Terminais Marítimos. Em nota, a empresa eximiu-se de culpa. "Por parte da Cattalini as operações transcorriam de maneira absolutamente normal, sendo que a explosão ocorreu a bordo e no momento as causas dessa explosão são desconhecidas", afirmou a nota, assinada pelo gerente-geral da empresa, Alcindo Cruz.
O terminal privado da Cattalini fica a cerca de um quilômetro do cais do porto público que, segundo nota divulgada hoje pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), teve as atividades paralisadas apenas por algumas horas após o acidente, voltando a operar no início da manhã de hoje. A Appa também afirmou não ter qualquer culpa no incidente. Uma portaria da Capitania dos Portos interditou na tarde de hoje, por tempo indeterminado, os terminais da Cattalini e da Transpetro, subsidiária da Petrobras, que fica ao lado do local do acidente.
Com a explosão, o navio partiu-se ao meio encostando no fundo do mar que, naquela região, tem cerca de 12 metros de profundidade. A estimativa é que serão necessários alguns meses para a retirada de toda a estrutura. O navio tinha vindo do Porto de Rio Grande e atracado domingo no cais, devendo seguir depois para o porto de Campana, na Argentina. Os tripulantes desaparecidos são os chilenos José Albregui Manzo, Ronald Francisco Peña Rios e Carlos Sepulveda Adriasola e o argentino Alfredo Omar Vidal.