As recentes ofertas bilionárias de compra da Companhia Vale do Rio Doce pela canadense Inco, a maior produtora de níquel do mundo, e da Sadia pela Perdigão indicam que um novo ciclo de fusões entre grandes companhias no mundo está a caminho. As grandes empresas brasileiras perceberam que precisam ganhar escala para competir.
A avaliação é do coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) David Kupfer. Com a perspectiva de queda dos preços das commodities metálicas e agrícolas no mercado internacional, como já mostram as previsões do Fundo Monetário Internacional, e do enfraquecimento da demanda desses itens por parte da China, as empresas vão ter de aumentar a escala de produção para sobreviver e atenuar perdas de margens.
"Os movimentos recentes da Sadia e da Vale do Rio Doce antecipam esse novo ciclo de fusões", diz Kupfer. Segundo ele, o período de calmaria está terminando. O economista antevê que um novo ciclo mundial de fusões e aquisições comece em 2007 e se estenda até 2012.
Também o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Langoni, acredita num novo ciclo mundial de fusões. Mas, ao contrário de Kupfer, para Langoni esse ciclo já começou. Com o fracasso da Rodada Doha no comércio mundial, a tendência é de serem firmados acordos regionais de comércio. Com isso, Langoni acredita que as empresas têm de ganhar escala e diversificar para concorrer em pé de igualdade no mercado externo.
Langoni destaca que os instrumentos de financiamento para as empresas darem um salto no tamanho já estão disponíveis. Criou-se uma nova capacidade de expansão das empresas, diz Langoni. Enquanto isso, o País não alcançou esse status. "Há uma dualidade entre o setor público e o privado", observa, fazendo referência à classificação de grau de investimento.
Segundo o sócio de Fusões e Aquisições da PricewaterhouseCoopers Raul Beer, um dos grandes problemas para as empresas brasileiras se transformarem em multinacionais é o custo de captação de recursos mais elevado do que as concorrentes estrangeiras.
Ele destaca que, apesar do recente desenvolvimento das Bolsas de Valores, as empresas brasileiras ainda têm custo de financiamento mais elevado em relação aos seus pares internacionais.