Boa parte do setor elétrico brasileiro reuniu-se nesta terça-feira, em Curitiba, para discutir o problema que tem custado às concessionárias R$ 10 milhões por dia. A subtração de receita por energia elétrica consumida mas não paga, e os prejuízos para reposição de condutores e equipamentos roubados das redes de distribuição de energia tem preocupado todas as concessionárias.

O evento, organizado pela Copel e Abradee (Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia), serviu para que mais de 300 participantes ? entre eles, representantes de empresas de telecomunicações, outra área muito visada por ladrões ? compartilhassem experiências e divulgassem medidas que vêm sendo tomadas individualmente para reduzir os índices de ocorrências.

O objetivo é integrar concessionárias, agências reguladoras, autoridades da segurança pública e membros do Judiciário para estabelecer um entendimento que possa resultar na formulação de um plano articulado, de abrangência nacional, capaz de combater a ação dos criminosos.

Prejuízos

“A população precisa ter consciência de que a conta dos prejuízos, em última análise, vai ser sempre dela”, observou o presidente da Copel, Paulo Pimentel, que fez a abertura do evento. “Ao prejuízo material, corresponde uma pressão por elevação de tarifas, e à falta de energia em decorrência de furtos corresponde um transtorno que não pode ser medido em dinheiro”.

Já o superintendente de serviços de eletricidade da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Paulo Henrique Silvestri, fez um comparativo entre os índices totais de perdas de energia que mostrou a gravidade da situação brasileira. Segundo ele, as perdas totais no sistema elétrico nacional, incluindo as de ordem técnica e comercial, é de 17%, enquanto as perdas na chilena Chilectra, por exemplo, chegam a 5,6%. “Os principais focos do problema”, disse Silvestri, “concentram-se nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo”.

O presidente da Abradee, Luiz Carlos Guimarães, disse que há muito a fazer no combate às perdas. Além disso, alertou para três conseqüências sérias que o roubo desenfreado de materiais e equipamentos elétricos acarretam às empresas. “Esses fatos interferem fortemente nos indicadores de qualidade do serviço, como os de duração e freqüência dos desligamentos, comprometem a imagem da empresa, porque é a ela que o consumidor atribuirá a responsabilidade por ficar no escuro, e, por fim, deixa vulnerável todo o sistema elétrico, que fica mais sujeito a desligamentos e blecautes”, descreveu.

Telefonia

Esses problemas não são exclusivos do setor elétrico, como ficou bem claro na exposição de João d’Amato Neto, diretor da Associação Brasileira de Prestadoras de Serviços Fixos Comutados, entidade que representa grandes empresas de telefonia fixa do país, como Brasil Telecom, Sercomtel, Telefônica e Telemar. “O furto de cabos telefônicos é uma epidemia nacional”, definiu o diretor. “A cada ano, são registradas perto de 50 mil ocorrências”.

O grande atrativo desse tipo de cabo é o valor comercial do cobre, que na telefonia ainda não ganhou uma opção de material com custo menor. No caso do setor de energia elétrica, o aço substituiu cabos de alumínio, que também eram roubados pelo valor do metal. Conforme mostrou o diretor, por ano, são roubados no país cerca de 10 mil km de cabos telefônicos, de onde os ladrões extraem 2 mil toneladas de cobre. “A extensão dos cabos equivale à distância entre um dos pólos da Terra e a linha do equador”, comparou. “Se fosse possível fazer um automóvel integralmente de cobre, com o material roubado daria para fabricar uns 4 mil”, exemplifica.

Delegacia

Os participantes concordaram que a maneira mais eficaz de combater o roubo de cabos elétricos e telefônicos é fechando o cerco aos receptadores, coisa que, em São Paulo, tem sido feita por uma delegacia especializada, vinculada ao Departamento de Investigações Criminais, e cujo titular, Valter Sérgio de Abreu, participou do seminário.

Ele informou que, das cerca de 700 prisões feitas pela sua delegacia até o momento, 140 foram de receptadores. “É o principal elo da cadeia a ser atacado, pois normalmente as quadrilhas que fazem grandes roubos de fios e cabos já têm um destinatário certo para o material antes de agirem”.

O delegado também sugeriu que sejam criados grupos de inteligência para o combate ao crime com participação de técnicos das próprias concessionárias, e que elas dêem aos policiais algum treinamento técnico para facilitar seu trabalho. “Igualmente, é preciso que as prestadoras de serviço fiscalizem muito bem suas empresas terceirizadas, pois existe o risco de um ex-empregado treinado e especializado estar agindo do outro lado”, alertou.

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