Brasília (AE) – O empresário Sebastião Buani, dono da rede de restaurantes que atende à Câmara dos Deputados, entregou hoje (12) à Polícia Federal o extrato de sua conta bancária do Bradesco, com o saque de R$ 40 mil que ele alega ter feito para pagar ao presidente da Casa, deputado Severino Cavalcante (PP-PE). Na época do saque, 4 de abril de 2002, Severino era 1º secretário da Câmara e, segundo Buani, o suborno teria sido exigido pelo parlamentar para prorrogar o contrato de exploração do seu restaurante por mais três anos, sem necessidade de nova licitação.

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O dinheiro era uma espécie de sinal do ‘mensalinho’, a mesada mensal que o empresário passaria a pagar ao parlamentar para não perder a concessão. "É o primeiro documento que prova que eu falei a verdade: o saque na minha conta, no mesmo dia, 4 de abril, em que ele (Severino) assinou o documento prorrogando o contrato", disse Buani. No total, ele alega ter pago cerca de R$ 128 mil, de janeiro a outubro de 2003. Ele prometeu trazer amanhã (13) a prova mais contundente do achaque que afirma ter sofrido: a cópia microfilmada do único pagamento feito em cheque em julho de 2003. O presidente da Câmara nega a denúncia e alega que sua assinatura foi falsificada no documento.

À tarde, três empregados do restaurante – o maître José Ribamar da Silva e os garçons Hélio Antônio da Silva e Rosenildo Francisco Soares – confirmaram, em depoimento à PF, que faziam a entrega da propina no gabinete de Severino. Os pacotes com dinheiro, conforme disseram, eram levados após o encerramento do expediente de restaurante, depois das 15h e entregues às secretárias do deputado, Ricely Paulo Camacho e Gabriela Kenia da Silva. "Levei pacotes contendo dinheiro para a secretária do Severino. Não sabia quanto tinha porque estava lacrado, mas a Gisele (filha de Buani, diretora financeira do restaurante) falava para eu ter cuidado porque continha dinheiro", relatou Ribamar à imprensa após o depoimento. Ele assumiu ter feito duas entregas entrega.

Com algumas variações, os dois garçons confirmam a história. "Não posso dizer que era para Severino, mas a recomendação foi que eu entregasse na primeira secretaria", explicou Hélio, que alega ter feito três entregas de pacotes recheados de dinheiro. "Sabia que era dinheiro, mas para que servia eu não sabia", acrescentou Rosenildo, responsável por uma entrega. As demais entregas foram feitas pessoalmente por Buani. Em depoimento na sexta-feira passada, as duas secretárias de Severino negaram o recebimento dos pacotes.

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Buani não soube precisar o valor do cheque, mas estimou uma quantia entre R$ 7 mil e R$ 7,5 mil. Ele pediu a microfilmagem de todos os cheques entre R$ 5 mil e R$ 10 mil emitidos no período, na certeza de que um deles é o de Severino. "Estou mostrando o ‘mensalão’. Amanhã (13), com a cópia do cheque, espero mostrar o mensalinho", disse o empresário, exultante com a chegada de parte dos documentos pedidos ao banco inclusive o número dos cheques a serem microfilmados. "Hoje é um dia feliz, cheguei a beijar o gerente do banco", comemorou.

O empresário disse que se sente vítima de chantagem e explicou que, agora, está com "a alma lavada e a consciência tranquila" por ter restabelecido a verdade. Ele explicou que o acordo era para fazer pagamentos em dinheiro, o que realizava com a arrecadação do caixa. "Só uma vez paguei com cheque porque estava sem dinheiro e tive de sacar do capital de giro".

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