Entre os pagamentos de supostas propinas pelos empresários do esquema dos sanguessugas, consta como beneficiário um integrante do Diretório Nacional do PT, o ex-diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e candidato a deputado federal pelo Ceará José Aírton Cirilo.
À CPI dos Sanguessugas, terça-feira, em Cuiabá, o empresário Darci Vedoin – sócio da Planam, uma das empresas envolvidas na fraude – afirmou que em 2003 teria pago comissões ao petista para que ele conseguisse, no Ministério da Saúde, a liberação de recursos referentes a 130 ambulâncias vendidas em 2002, ainda na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O repasse teria sido de R$ 800 mil.
De acordo com três pessoas que assistiram ao depoimento, Vedoin contou que nos primeiros meses de 2003, por força de um decreto do governo Lula, a Planam passou a ter dificuldades em receber o dinheiro, embora todas as ambulâncias já tivessem sido licitadas e 115 entregues às prefeituras beneficiárias. O empresário afirmou que teria encontrado o então ministro da Saúde, Humberto Costa, para resolver o problema e ele teria dito que Vedoin não receberia o dinheiro.
Segundo Vedoin, após o encontro com o ministro ele foi procurado por dois supostos emissários de Cirilo. Os dois disseram que Cirilo poderia fazer gestões junto ao Ministério da Saúde e ajudá-lo a receber o dinheiro. Uma das fontes relatou que, segundo Vedoin, seguiram-se outros encontros, inclusive com Cirilo. Teria ficado acertado que o empresário repassaria comissão de 5% do valor de cada ambulância cujo pagamento fosse liberado.
De acordo com Vedoin, parte dos valores foi quitada e a propina, paga. Disse que apresentará provas. À Justiça Federal, o filho de Vedoin e também dono da Planam, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, contou a mesma versão. Luiz Antônio entregou à Justiça Federal documentos que comprovariam os depósitos. Cópias de seu depoimento e de supostos comprovantes de pagamentos foram repassadas pela Justiça Federal de Mato Grosso à CPI.
Humberto Costa afirmou que não lembra de ter recebido Darci Vedoin, mas que é possível. Com o decreto baixado por Lula, dezenas de prefeitos e empresários que enfrentavam problema idêntico ao de Vedoin o procuraram no ministério. "Se o encontrou houve, está na minha agenda e pode ser checado no Ministério da Saúde." Ainda segundo Costa, à medida que o Ministério da Fazenda liberou recursos, a Saúde liquidou praticamente todos os restos a pagar pendentes. "Estive com José Aírton (Cirilo) em algumas situações, mas ele nunca apresentou proposta escusa ou tratou de interesse de empresários.
Por nota, Cirilo informou que aguardará a divulgação do depoimento para se pronunciar, mas adiantou que em 2003 era vereador em Fortaleza e não tinha "nenhum tipo de gestão junto ao governo federal".