Rio (AE) – O emprego industrial cresceu 0,6% em setembro, na comparação com agosto. Para Isabella Nunes, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento pode significar uma expectativa favorável dos empresários para o último trimestre do ano, mas não acena com uma reação mais forte do mercado de trabalho do setor. Ela argumenta que, ante setembro de 2004, a ocupação na indústria ficou estável, com variação zero após 19 meses consecutivos de alta.
Para Marcelo de Ávila, analista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dados do emprego industrial apurados pelo IBGE mostraram estagnação em setembro, o que para ele confirma que o emprego vem respondendo com muita velocidade à perda de ritmo da economia. Para ele, o mau desempenho no mês é agravado pelo fato de que setembro costuma revelar um aquecimento da ocupação na indústria em razão das encomendas para o fim de ano.
Além disso, ele destacou que os dados de comparações trimestrais também estão muito próximos de zero, confirmando a desaceleração. No terceiro trimestre, houve aumento de 0,4% na ocupação, ante igual trimestre do ano passado, mas queda de 0,3% ante o segundo trimestre deste ano. Em 2005, de janeiro a setembro, a ocupação industrial acumula aumento de 2,3% e, em 12 meses, de 2,6%.
Isabella concorda que, "apesar do aumento ante mês anterior, os dados do emprego são coerentes com o cenário de desaceleração da produção". Segundo ela, na comparação ante igual mês do ano anterior, os setores que mais contribuíram para impedir um crescimento da ocupação foram calçados e madeira, ambos voltados para exportação e que estão sofrendo com o câmbio valorizado.
Por outro lado, os segmentos que evitaram uma queda no indicador também são voltados para exportação, mas estão sendo menos prejudicados pelo câmbio, como alimentos e bebidas e meios de transporte.
Rendimento – A folha de pagamento real da indústria registrou queda de 1,3% em setembro, ante agosto, mas, para Isabella e Marcelo de Ávila, o recuo não revela ainda retrocesso nos ganhos recentes dos trabalhadores do setor. "A folha é muito mais volátil do que o salário porque incorpora qualquer ganho extraordinário", disse Isabella.
Segundo ela, o recuo na folha ocorreu após um crescimento de 1,9% em agosto, ante julho, ou seja, o aumento anterior não foi anulado, tanto que o índice de média móvel trimestral, considerado o principal indicador de tendência, permanece estável. Além disso, ela destacou o crescimento de 3 7% na folha ante setembro do ano passado. "Os dados da folha ante 2004 têm mostrado ganhos significativos, assentados em cima do controle inflacionário", disse.
Segundo Isabella, no caso da folha de pagamento é mais importante avaliar os dados comparativos a igual período do ano anterior do que ao mês imediatamente anterior. "Mesmo com o ajuste sazonal, esse dado é muito volátil", disse.
Para o economista do Ipea, é preciso esperar os dados da folha industrial de outubro para checar o quanto pode ser preocupante a queda registrada em setembro ante agosto. "Se houver uma nova queda, pode ser uma clara quebra da tendência de tentativa de crescimento (da folha)", disse. No ano, a folha real acumula aumento de 4% e, em 12 meses, de 5,5%.