O mercado de trabalho industrial respondeu à desaceleração da atividade do setor com acomodação em julho, quando a ocupação ficou estável (variação zero) ante junho.
A folha de pagamento real teve queda de 0,1% no mês, completando um quadro de piora nos indicadores do emprego, segundo avalia Isabela Nunes Pereira, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Como conseqüência do baixo dinamismo da produção do setor industrial, há também um baixo dinamismo do emprego nas indústrias", avalia em documento o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A avaliação de piora do mercado ocorre apesar dos crescimentos de 1,1% na ocupação ante julho de 2004 e de 3,1% da folha de pagamento nessa base de comparação.
Para Isabela, a tendência de queda no número de ocupados revelada pelo índice de média móvel trimestral – considerado o principal indicador de tendência – mostra que o emprego do setor está respondendo, com a tradicional defasagem, à estagnação da produção no primeiro trimestre deste ano. O trimestre encerrado em julho teve queda de 0,2% ante o terminado em junho.
Segundo ela, o ajuste do mercado de trabalho em relação à recente desaceleração da indústria ocorreu no número de horas pagas, que responde mais rapidamente aos movimentos da produção e tem maior volatilidade. Em julho, o número de horas pagas na indústria caiu 1,2% ante junho. "Isso pode mostrar um ‘stand by’ das empresas, que, num cenário de expectativas mais pessimistas, esperam um cenário mais definido para contratar ou demitir", disse.
Isabela disse também que a estagnação do emprego industrial em julho ante junho ocorre porque os setores que estão elevando a produção e aumentando as contratações, como alimentos e bebidas e material de transporte, não são os mais empregadores, ou seja, mesmo que contratem, o número não é suficiente para provocar maior reação no mercado de trabalho. Setores que empregam mais, como calçados e têxtil, têm apresentado reação lenta na produção e na ocupação.
No caso da folha de pagamento real (massa salarial) da indústria, a avaliação de Isabela é que o quadro é de ligeira piora por causa do indicador de média móvel trimestral. No entanto, ela salientou como fato positivo o aumento na folha ante julho do ano passado, que já representava uma base de comparação elevada. Segundo a economista, a contribuição para esse aumento da folha foi dada pelos setores com maior destaque nas exportações.
Para o Iedi, os dados da massa salarial "confirmam a percepção de um cenário industrial que não pode ser considerado favorável". Além disso, os economistas da instituição avaliam que resultados do mercado de trabalho industrial em julho "constituem também um indicador a mais de que a política monetária poderia de fato ter iniciado antes o processo de redução das taxas de juros, além de ter dado maior intensidade à queda da taxa básica decidida pelo Banco Central" nesta semana.