Emprego de banqueiro

José Alexandre Scheinkman é professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Por 29 anos lecionou na Universidade de Chicago e está ligado também à Universidade de Paris. É brasileiro, casado com brasileira, conhecedor dos nossos problemas econômicos e, como atua nos meios universitários norte-americanos e europeus, dos problemas de todo o mundo. É um economista dos mais respeitados. Na semana passada esteve no Brasil e até recebeu (e parece que aceitou) um convite para assessorar o candidato Ciro Gomes. Falando à imprensa, disse que a turbulência no mercado financeiro, atingindo o Brasil, “tem pouco a ver” com as eleições. Na opinião do professor, tem mais a ver com o medo de perder o emprego dos gerentes de investimentos, depois das crises como as das empresas Enron e WorldCom ou de países como a Argentina. Scheinkman não nega, de todo, a relação entre a crise e os temores que as eleições brasileiras inspiram nos investidores. Ele se refere exclusivamente aos estrangeiros, mas acrescentaríamos também os brasileiros que padecem do mesmo mal, se bem que com agudeza distinta.

Mas acrescenta um dado que é preciso ser compreendido pelos brasileiros.

No Brasil, em geral os bancos têm donos visíveis, identificáveis. São famílias, grupos econômicos e mesmo governos, apesar das privatizações já havidas. Todos, através dos fundos que administram, são grandes investidores. Grandes também os fundos de previdência privada, sempre geridos por associados eleitos ou executivos nomeados.

A figura do banqueiro brasileiro, um milionário que estaria interessado só em ganhar dinheiro para si e para os seus, aqui existe em termos, pois a maioria dos estabelecimentos financeiros é de empresas de capital aberto. Entretanto, sob controle de alguém ou de algum grupo. Nos Estados Unidos e também na Europa, mas principalmente no grande país do Norte, o banqueiro não é dono do banco. É empregado, sempre muito bem pago. As grandes instituições financeiras pertencem a milhares e milhares de acionistas, pois são companhias de capital aberto, e quando controladas, muitas vezes o são por companhias de seguros, por sua vez com uma imensa quantidade de acionistas. Qualquer fundo de previdência, associação profissional, profissional liberal ou mesmo operário é dono de grandes ou pequenas parcelas desse sistema financeiro. Os figurões que aparecem como banqueiros são empregados. Empregados também os investidores, gestores dessas instituições que aplicam fundos de variadas origens. Quando surgem problemas como a crise da Argentina e de empresas norte-americanas ou multinacionais como a Enron e a WorldCom, esses investidores, altos executivos, ficam com o rabo no meio das pernas. Seus empregos, muito bem remunerados, estão sob ameaça e qualquer burrada, qualquer aplicação mal feita, de alto risco ou que dê errado, pode lhes custar o caviar deles de todos os dias. Tornam-se conservadores. Mais do que isso, medrosos, seletivos ao extremo na escolha dos investimentos e desconfiados de tudo e de todos. Se dizem que no Brasil ocorrerão eleições, que o real está sendo desvalorizado em relação ao dólar ou que poderá vencer um candidato contrário ao acordo com o FMI ou desfavorável às políticas econômicas que consideram mais seguras e consistentes, simplesmente se afastam desses mercados sem maiores indagações. Estão errados, em relação ao Brasil? Talvez sim, mas e daí? Querem é se agarrar aos seus empregos e polpudos salários.

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