O Instituto foi vencedor no ano passado do Projeto Legado, do Instituto Legado. Com os R$ 20 mil do prêmio, o diretor Luciano Américo conta que montou uma marcenaria, assim como construiu um espaço para abrigar o maquinário usado nos cursos. Os internos trabalham principalmente com materiais recicláveis, como pallets e ferragens, construindo móveis. Todo o trabalho é feito por voluntários.
Em quatro anos de existência, o Decisão já capacitou vários dependentes químicos. Ednei Teles dos Santos, de 55 anos, por exemplo, é um deles. Há três meses interno no local, Ednei é reincidente. Já esteve no Decisão há quatro anos atrás, mas não conseguiu se livrar do vício. “Voltei a beber e como a experiência anterior aqui foi boa, decidi voltar. Desta vez vou me recuperar”, promete. Ele é marceneiro e além de construir móveis que são comercializados pela instituição, está dividindo sua experiência com outros internos.
No Decisão, além da capacitação, os internos têm casa e comida. O local funciona numa chácara e lá, além de oficinas, voluntários, internos e familiares têm acesso a uma biblioteca, montada pela Ong Freguesia do Livro. No local também funciona uma horta. “Nós plantamos, mas boa parte dos alimentos também vem de doação”, explica Luciano.
Além de oferecer capacitação através da laborterapia, no Decisão os internos também têm palestras motivacionais. “Nosso objetivo é que eles voltem para a família. E também para o mercado de trabalho”, diz o diretor. Entre os internos hoje, pelo menos três deles pretendem prestar o próximo Enem.
Um deles é Ademar Loures de Andrade, 44 anos, quatro deles no Instituto Decisão. Ex-dependente de crack, Ademar sonha em cursar uma universidade. Quer fazer Direito ou Teologia. “Já fiz todos os cursos que deram aqui. Agora, quero uma faculdade”, relata. Ele foi dependente químico por 20 anos, tem dois filhos, mas cortou os laços familiares. “Vou ficar o resto da minha vida aqui. Como bem, durmo bem e me visto bem”, brinca.
Luciano conta que boa parte dos internos acaba ficando no local por não terem para onde ir. “É por isso que é importante capacitar os internos. Com uma profissão e local de trabalho, fica mais fácil eles reconstruírem suas vidas”, atesta.
Histórias de sonhos e de luta
Todos os internos do Instituto Decisão são ex-dependentes químicos. São usuários de drogas como crack e álcool. Além de um trabalho multidisciplinar de recuperação feito por voluntários da Ong, os internos têm acesso à capacitação profissional. Agora, a direção espera poder construir uma escola, assim como conseguir a validação oficial dos cursos que já funcionam no local.
Todo o trabalho é feito por voluntários. Um deles é o soldador Rodrigo Miranda de Góes. Ele fabrica bicicletas de jardim, assim como faz móveis de madeira recicláveis. São mesas, sofás, estantes e até prateleiras de lojas. “Temos uma boa aceitação no mercado”, afirma Rodrigo. De acordo com ele, os voluntários também abastecem uma usina de reciclagem com o lixo de doações. No local também são reciclados sacos de ráfia doados por uma empresa.
“Dirigia drogado”
Joaquim Marcelino de Araújo Jr, 25 anos, é ex-dependente de crack e está há apenas um mês internado na chácara. Entrou para o universo das drogas aos 17 anos, depois de uma desilusão amorosa. Veio de Governador Valadares, em Minas Gerais e depois de uma breve passagem pelo Exército, foi ser motorista de caminhão. “Dirigia drogado, um perigo nas estradas”, relata. Chegou magro e debilitado no Decisão. “Estava que era um chassi de louva-a-deus”, brinca. Hoje, aprende a profissão de pintor e marceneiro. “Minha vida mudou”, constata.