Desde o início do ano, cerca de 12 milhões de profissionais foram demitidos no país, 16 mil deles somente no Paraná. De alguma forma, boa parte deste contingente quer voltar ao mercado de trabalho. Mas depois de anos dentro de uma empresa, como se preparar para voltar ao mercado? “As emoções estão muito presentes nesta fase de transição”, lembra Andréa Gauté, diretora da Gauté Soluções RH e voluntária como diretora do Eixo da Experiência à Ação da Associação Brasileira de Recursos Humanas do Paraná (ABRH-Pr).
Responsável por um projeto de superação dentro da associação em parceria com o Sebrae-Pr, a diretora ajuda profissionais demitidos a darem a volta por cima. “Durante essa fase muitos se sentem estressados, angustiadas, outros até se deprimem e paralisam diante desse processo”, explica.
E como a trajetória profissional como um todo vai ficar mais intensa nesse momento de transição de carreira, para ela é importante a pessoa se autoconhecer, se resgatar, entender as suas fortalezas, entender o seu histórico curricular, parar e estruturar uma estratégia de mercado para a sua volta ao trabalho. “O que a gente fala é aceita o que aconteceu, fecha o ciclo, se conhece para que possa se empoderar e testar novas oportunidades no mercado de trabalho”, aconselha.
Recolocação
Para Andréa, quando um profissional vai para a rua, além de fragilizado, ele precisa tomar cuidado para não perder de vista as oportunidades. A primeira dica é não se esconder dentro de casa. “Lembre-se, quem não é visto, não é lembrado”, cita. Para ela, neste momento é importante trabalhar rede de contatos, marketing pessoal e até cartas de apresentação.
Sabendo que 75% das admissões no mundo são feitas através das redes de relacionamentos, ela recomenda para quem quer se recolocar não perder de vista os amigos. “Mas tem que ser uma rede de relacionamento com muito profissionalismo. Não é assim, eu estou indicando fulano porque fulano é meu amigo. Não, estou indicando fulano para a empresa X porque fulano tem muitas competências, porque senão você se queima”, afirma.
Sem receita de bolo
Hoje em dia o mercado de trabalho anda bem flexível quando o assunto é contratação. Foi-se o tempo em que o funcionário “pula-pula” era visto com maus olhos, ou os mais antigos eram vistos como obsoletos. “Não tem mais uma receita de bolo”, observa Andréa. De acordo com ela, hoje tem “pula-pula” que é disputado à tapa pelo mercado. “Por quê? Porque ele trabalha por projeto. Ele chega, faz um diagnóstico, implementa um sistema e sai. Ele é um profissional que chegou lá para implantar uma grande mudança organizacional”, justifica.
Como também não tem uma receita de bolo para a pessoa falar que depois de muitos anos de trabalho, o funcionário se acomodou. “Depende dos desafios que ele se impõe. Evolução de carreira não é só na vertical. Ele pode estar mudando de área, ou pegando dentro de sua área outros subsistemas”, acredita.
Hoje, quando se vai fazer o perfil de um presidente ou de um CEO, explica Andréa, as empresas preferem alguém que já passou por todas as áreas, que tenha uma visão holística, que já tenha passado por outros subsistemas. “Quanto mais tiver passado, melhor”, acredita.
Palavra da profissional
Hoje estamos na era da informação, do conhecimento, então não dá para parar de aprender. Mas não é só aprender por aprender. Tem um monte de gente que tem um currículo fantástico, tem dez mil cursos, tem pós, mestrado, doutorado e tem zero de aplicabilidade. Não adianta eu ficar lendo tudo e não conseguir colocar nada em prática.
Então tem como fazer de forma diferente, refazer processos estando dentro da mesma organização? Claro que sim. Tem como se desafiar o tempo inteiro. Basta parar, pensar, se reconectar e buscar. Não ficar “oh, Deus, oh vida, não estou fazendo nenhum curso porque a empresa não está pagando, ou por conta da crise, o rh não me dá oportunidade de crescer na carreira”. Quem é responsável pela carreira, o rh ou você? O que você está fazendo pela sua carreira?
Do outro lado do balcão
Gestor de pessoas e de Recursos Humanos, o administrador Cleverson Luiz Lopes foi demitido recentemente de uma federação em Curitiba, local em que trabalhava como consultor de RH. Mesmo com toda a experiência em contratar funcionários, Lopes se viu sem saber o que fazer quando passou para o outro lado do balcão. Foi fazer o curso da ABRH-Pr. “É mais fácil administrar a carreira dos outros do que a nossa”, observa.
Antes de ser demitido, o consultor se preparou financeiramente, já que percebeu que a federação vinha “enxugando” o quadro de profissionais. “No final do ano passado percebi os primeiros indícios”, relata. A federação passou de 5,3 mil colaboradores para 4 mil, 20% de redução no quadro funcional. “Diante disso fiz economias e voltei a estudar”, conta. Agora, ele aguarda uma oportunidade no mercado de trabalho. “Tem muita gente boa e qualificada desempregada. Espero não ser mais um”, finaliza.