Fracassou a operação comandada em pessoa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir a prorrogação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. Uma reviravolta de última hora impôs nesta sexta-feira uma nova derrota ao governo e a CPI vai funcionar pelo menos até 11 de abril, entrando pelo ano eleitoral.

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De seu gabinete no Planalto, Lula chefiou as negociações para que parlamentares retirassem suas assinaturas do requerimento de prorrogação da CPI em troca da liberação de verbas federais. À meia-noite de quinta-feira (10) chegou a comemorar a vitória ao anunciar a desistência de 67 deputados que tinham assinado o requerimento, baixando o total de assinaturas de 237 para 170, ou seja, uma apenas a menos do que o mínimo necessário, que é de 171.

Só que a oposição pediu a recontagem. Pouco depois das 11 horas de hoje (11), a Secretaria-Geral da Câmara concluiu que apenas 66 retiradas tinham sido válidas e considerou que o requerimento contava com o apoio de 171 deputados. O governo – que queria ver o fim da CPI em 11 de dezembro – lamentou. A oposição festejou. "O rolo compressor do governo engripou", disse o deputado Alberto Fraga (PFL-DF), que nem é da CPI dos Correios, mas aproveitou a oportunidade para falar como líder da oposição, já que os líderes de fato e de direito estavam longe de Brasília.

O Planalto prometeu mundos e fundos para que parlamentares retirassem a assinatura do requerimento de prorrogação da CPI. De acordo com informações dos próprios parlamentares, prometeu liberar R$ 1,2 bilhão para as emendas deles até o fim do ano. É com essas emendas, geralmente utilizadas para a construção de pequenas pontes, quadras de esportes, escolas e postos de saúde, que eles garantem os votos para a reeleição. Mas a desmobilização dos líderes do governo foi muito grande. Os líderes foram pegos de surpresa e o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, estava no exterior.

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Desesperado com a notícia de que as oposições tinham conseguido as 171 assinaturas para prorrogar a CPI dos Correios, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), correu para o gabinete do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Lá, conferiram assinatura por assinatura. Perceberam que a do deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) fora considerada inválida porque os computadores e os técnicos da Câmara não a reconheceram como dele. "O deputado Dornelles retirou a assinatura", insistiu Chinaglia. Por telefone, Dornelles confirmou. Chinaglia prometeu então recorrer ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O presidente do Senado, a quem cabe toda decisão quando a CPI é mista, caso da dos Correios, orientou o secretário-geral da Mesa, Raimundo Carreiro, a considerar válidas as 171 assinaturas. "O que vale é o regimento. A CPI foi prorrogada", anunciou Carreiro. O governo queria insistir na retirada de outras duas assinaturas, além da de Dornelles: dos deputados Carlos Willian (PMDB-MG) e Wladimir Costa (PMDB-PA). Mas pelo menos hoje não teve êxito.

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Willian e Costa retiraram as suas assinaturas às 23h37. Mas às 23h59 os nomes deles foram entregues à Secretaria-Geral da Mesa do Senado, como apoiadores da prorrogação. Nesse caso, houve um cochilo muito forte do governo. Conseguiu convencer os dois a recuar, mas as oposições tinham se preparado para o ataque governista e fizeram uma reserva técnica com a participação dos dois. Como o que vale é a assinatura que é entregue por último, os nomes dos dois deputados ajudaram a prorrogar a CPI. "A oposição usou uma estratégia mais inteligente que a do governo, de entregar minha assinatura por último. Mas, ainda assim, isso não está de acordo com a minha última vontade. Vou entrar com recursos para que prevaleça a minha assinatura de retirada", disse Willian.

O deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP) foi outro que retirou a assinatura. "Agora, a CPI terá uma responsabilidade muito maior", disse ele. "O governo teve um desgaste desnecessário", opinou. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), afirmou que a CPI vai ter um trabalho focado. "Agora, a CPI vai atrás da origem do dinheiro e tentará descobrir como o dinheiro foi enviado para o exterior e como os pagamentos foram feitos", disse ele.