O primeiro debate entre os presidenciáveis, que foi ao ar pela TV Bandeirantes, foi interpretado pela maioria dos observadores e cientistas políticos como tendo um resultado de empate. Embora pesquisas tenham dado vencedores e vencidos, na verdade só houve um perdedor, que foi Anthony Garotinho. O ex-governador do Rio, por usar uma linguagem demagógica dirigida ao grande público e facilmente perceptível e em especial por ter partido para o ataque aos contendores, acabou ficando na posição onde sempre esteve nas pesquisas: em último lugar. Os demais candidatos, Lula, Ciro e Serra, empataram, embora consultas aos telespectadores apontem Lula em primeiro, Ciro em segundo e Serra em terceiro lugar. A mesma posição das pesquisas eleitorais, apenas com um possível crescimento de Serra, porém ainda ficando longe de Ciro e de Lula. Do ponto de vista de avanços em termos de posicionamentos e propostas, não apenas empataram. Também empacaram, na medida em que nada de novo apresentaram.
O debate foi muito bem organizado e dirigido, impedindo inconvenientes bate-bocas. Teve tanta ordem que, na verdade, colocou os candidatos numa camisa-de-força, impedindo-os de dizer tudo o que queriam. As regras e o tempo escasso manietaram os contendores. Os três candidatos apontados como empatados na verdade colocaram-se em posições idênticas com respeito aos principais problemas nacionais. Apenas variaram um pouco no tom da retórica. Todos defenderam um maior desenvolvimento econômico para o País, aumento das exportações, geração de elevados superávits, melhor educação e ensino profissionalizante, geração de empregos e, com menor ênfase, o combate à criminalidade. O endividamento do País foi tratado, sem tempo nem linguagem acessível e disponível para aprofundar-se. Lula não atacou ninguém, salvo o atual governo e, ainda aí, de leve. Foi diplomático, simpático e respondeu a uma das indagações que na sociedade brasileira se faz sobre seu nome como candidato: estaria preparado para ser presidente. Foi ao programa instrumentado. Tratou de todos os problemas de cátedra, com estudos e projetos em mãos. Tantos que nem teve tempo de compulsá-los.
Ciro procurou manter a mesma linguagem diplomática e empostada, vangloriando-se de sua experiência. Procurou evidenciar José Serra como o candidato de Fernando Henrique Cardoso. Serra reagiu, dizendo que é candidato apoiado pelo presidente, do que se honra, mas um eventual governo sob seu comando será um governo José Serra, com suas próprias características. Deu a impressão que, ao contrário de Lula e Ciro, foi ao debate com quatro pedras na mão, com a intenção de desmascarar números e posições de Ciro, que com números buscou mostrar serem mentirosas. Os sucessos alardeados por Ciro Gomes em seu governo no Ceará e no curto espaço de tempo em que esteve no Ministério da Fazenda foram cabalmente desmentidos por José Serra. Um José Serra mais nervoso que os demais debatedores.
A conclusão que se chega, depois de analisado o debate havido domingo passado, é que os candidatos com chances de eleger-se têm programas muito parecidos, reconhecem problemas e dificuldades comuns para governar e parecem estar igualmente preparados. Não só empataram, como também empacaram, não avançando nada no esmiuçamento de seus programas de governo, o que se espera seja possível nos programas da Justiça Eleitoral.