Os países emergentes estão assumindo posição cada vez mais relevante na oferta mundial de aço e devem liderar a produção em 2010. Em 1970, 85% da capacidade de produção global estava nos países ricos integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e 15% nos mercados emergentes. Em 1990, a participação dos países ricos caiu para 69%, e depois para 52% no ano 2000. As projeções indicam que essa participação cairá para 42% em 2010, com os mercados emergentes respondendo pelos 58% restantes. As projeções foram apresentadas pelo diretor-técnico do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Rudolf Bühler, em seminário para jornalistas.
Bühler citou como exemplos os novos projetos anunciados para o Brasil. O grupo alemão Thyssen-Krupp está desenvolvendo uma planta de cinco milhões de toneladas no Rio de Janeiro; o grupo italiano Danielli está investindo na Ceará Steel, no Nordeste; e a chinesa Baosteel anunciou há poucos dias disposição de investir em uma planta de 4,5 milhões de toneladas em parceria com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Itaguaí, no Estado do Rio.
O diretor do IBS disse que esses projetos são de produtos semi-acabados que serão exportados para os países de origem dos investidores, onde serão laminados para o mercado local. Na sua avaliação, o Brasil reúne condições "fantásticas" de competitividade na indústria de aço. Ele citou que o quadrilátero envolvendo os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo dispõe de minério e logística (ferrovias e portos) para a produção siderúrgica, além de contar com ampla disponibilidade de minério de ferro de boa qualidade.
O Brasil é nono maior produtor mundial, e exporta cerca de terço da produção anual. "O Brasil é um player global nesse setor e tem boas condições de competir em escala mundial", enfatizou.
Excedente
O setor siderúrgico mundial terá um excedente de produção em torno de 260 milhões de toneladas em 2010, se os projetos de ampliação de capacidade atualmente conhecidos forem todos implementados. A previsão faz parte de um estudo da consultoria McKinsey divulgado pelo diretor técnico do IBS. Atualmente, estima-se que há uma sobrecapacidade de 75 milhões de toneladas.
Pela projeção, o mundo estará produzindo de 1,55 bilhão de toneladas de aço daqui a quatro anos, frente aos 1,13 bilhão de 2004, com acréscimo de 420 milhões de toneladas no período, ao ritmo de 5,4% ao ano. Já a demanda está prevista em 1,29 bilhão de toneladas com acréscimo de 235 milhões de toneladas ante o total consumido em 2004, que atingiu 1,055 bilhão. O crescimento da demanda oscilará em torno de 3,4% ao ano, cerca de dois pontos porcentuais abaixo do previsto para o aumento da produção.
Esse movimento, na avaliação de Bühler, poderá pressionar os preços do aço para baixo nos próximos anos. "Esse movimento tende a ser mais forte nos aços mais comuns, tipo commodity, afetando menos os aços especiais", observou. Na sua opinião, o fator determinante para a evolução do mercado siderúrgico mundial será a China.
No ano passado, o país asiático produziu, isoladamente, cerca de 350 milhões de toneladas de aço, o que é equivalente à soma dos outros cinco maiores produtores mundiais: Japão (112 milhões de toneladas); Estados Unidos (93 milhões de toneladas); Rússia (66 milhões de toneladas); Coréia do Sul (48 milhões de toneladas); e Alemanha (44 milhões).
Bühler afirmou que a produção chinesa de aço não tem custos competitivos para disputar o mercado mundial de exportação, mas o excesso de produção poderá ser colocado no mercado internacional, afetando os preços do produto.
Ele disse que o governo chinês tem um programa de substituição de siderúrgicas antigas por novas unidades. O problema é que as novas plantas estão sendo instaladas sem que as antigas estejam paralisadas, o que acarreta forte aumento da produção. "Se a China ofertar algum excesso no mercado mundial, todo o setor será afetado", alertou.