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Mercedes Panizzi: desenvolvendo soja para alimentação humana. continua após a publicidade |
Uma cultivar de soja de sabor mais adocicado que as tradicionais é a novidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para mercado interessado em soja para alimentação humana. A cultivar, que ainda está em fase de registro junto ao Ministério da Agricultura, estará disponível para multiplicação de sementes na próxima safra.
O novo produto foi desenvolvido por intermédio do cruzamento genético tradicional, portanto, sem a utilização da biotecnologia. ?Essa soja é mais saborosa porque conseguimos cruzar várias plantas com características desejáveis como maior teor de sacarose e de ácido glutamínico que melhoram o sabor. Mesmo tendo a presença da enzima lipoxigenase que confere gosto de feijão cru à soja – a nova cultivar tem o sabor bastante agradável, conforme verificamos em testes sensoriais?, explica a pesquisadora Mercedes Panizzi, da Embrapa Soja.
A nova soja apresenta sementes grandes, sabor suave, sendo ideal para produção de queijo de soja (tofu), farinhas e extrato de soja (leite). ?Essa cultivar pode ser consumida como soja verde ou hortaliça. Como hortaliça, a soja é vendida com as vagens presas nos galhos, com as vagens soltas, ou com os grãos debulhados?, diz. ?Este é um hábito bastante comum no Japão e pretendemos estimular também no Brasil.
A Embrapa Soja, por meio do melhoramento genético tradicional, já lançou cinco cultivares específicas para a alimentação humana, que podem ser produzidas em sistemas orgânico ou convencional. ?A Embrapa Soja tem procurado estimular diferentes linhas de pesquisa que atendam aos nichos de mercado demandados pela sociedade. Por isso, o desenvolvimento de cultivares convencionais para alimentação, adequadas para serem produzidas em sistema orgânico, tem sido uma de nossas prioridades?,diz a chefe geral da Embrapa Soja, Vania Castiglioni.
A Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa, que multiplica as sementes de soja da Embrapa em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, também está otimista com este novo nicho de mercado. Tanto que a parceria entre as instituições vai testar novas plantas de soja específicas para a alimentação humana em 29 locais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. ?Acreditamos que o consumo de produtos à base de soja é cada vez mais crescente, por isso apoiamos a Embrapa no desenvolvimento de cultivares convencionais específicas para alimentação e que possam ser produzidas em sistema orgânico?, explica o gerente técnico da Fundação Meridional, Ralf Dengler.
Além do trabalho de pesquisa, a parceria entre as instituições pretende incrementar a divulgação de cultivares para alimentação humana nos dias de campo, desta safra, e realizar eventos técnicos para aprofundar o conhecimento de agrônomos da assistência técnica pública e privada. ?Uma novidade desta safra será a contratação de uma culinarista que poderá ministrar cursos de culinária de soja nos quatro estados onde atuamos. Também pretendemos implantar unidades de demonstração de soja na alimentação em vários pontos do Brasil com destaque para a degustação de produtos à base de soja?, explica.
Objetivo é obter um produto assimilado pelo paladar
O aumento do consumo de soja no Ocidente vem exigindo das instituições de pesquisa o desenvolvimento de cultivares de soja com sabor mais suave e que se contrapõe ao gosto exótico da soja. Por isso, nos últimos 10 anos, a Embrapa Soja desenvolveu várias cultivares convencionais específicas para alimentação.
As cultivares BRS 213 e BRS 257, que têm como principal característica a ausência de lipoxigenases, já estão sendo produzidas comercialmente. A utilização destas cultivares no processamento doméstico e industrial da soja permite obtenção de produtos com melhor qualidade e sabor superior.
Nesta safra, a Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar) que utiliza 3 mil toneladas por ano de soja para produção de sucos, cremes e extratos de soja, estará produzindo pela primeira vez, as cultivares BRS 213 e BRS 257. ?Como utilizamos uma soja comum na fabricação de nossos produtos, precisamos dar o choque térmico para inativar a lipoxigenase e melhorar o sabor da soja. Nossa expectativa com a BRS 213 e 257 é conseguir eliminar esta etapa da produção, incrementando ainda mais o sabor dos produtos à base de soja e reduzindo custos?, avalia José Ademir Ranieri, coordenador técnico da Cocamar.
Outro exemplo é a cultivar BRS 258 que possui outras características exigidas pelo mercado como sementes grandes e hilo claro. Por outro lado, a cultivar BRS 155 apresenta reduzido teor de inibidor de tripsina (fator antinutricional que interfere na digestão de proteínas), o que permite redução do tratamento térmico. ?Isso diminui custos de processamento e melhor solubilidade das proteínas?, diz Mercedes.
Outra cultivar para alimentação humana, desenvolvida pela Embrapa, é a BRS 216 que apresenta grãos pequenos (10g/peso de 100 sementes), característica que a torna adequada para a produção de natto – alimento fermentado utilizado no Japão – e para produção de brotos de soja, a exemplo, de brotos de feijão (?moyashi?).