A transferência para a embaixada brasileira em Paris, um dos possíveis destinos da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em caso de derrota no segundo turno das eleições municipais, contará com a resistência do Itamaraty. Não é nada pessoal. No entanto, a corporação não gosta de ver seus melhores postos entregues a não diplomatas. Ainda mais se tratando de Paris. Muitos jovens ingressam no serviço diplomático sonhando com esse posto e no Itamaraty existe uma máxima que diz: “Washington é o mais importante, Paris é o melhor.”
De 145 embaixadas e consulados brasileiros espalhados pelo mundo, no atual governo apenas três foram entregues a pessoas de fora da carreira: Roma (que é chefiada pelo ex-presidente Itamar Franco), Lisboa (com o ex-presidente da Câmara dos Deputados Paes de Andrade) e Havana (com o deputado Tilden Santiago). O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não gostaria de entregar outro posto a algum político e, pelo que se comenta nos corredores do Itamaraty, teria feito um acordo nesse sentido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os diplomatas acreditam que as especulações quanto à nomeação de Marta crescem porque existe uma tendência que o atual ocupante do posto, o embaixador Sérgio Amaral, seja removido para algum outro posto. Tóquio e Berlim são os mais cotados. Ele está em Paris há dois anos e sua indicação foi fruto de um acordo entre Lula e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Mesmo sendo um diplomata de carreira de competência reconhecida, parte do comando do Itamaraty avalia que Amaral está muito identificado com o governo anterior, do qual ele foi porta-voz e ministro do Desenvolvimento. Mantê-lo em Paris, que é uma vitrine, não é algo exatamente agradável para a atual administração.
A saída de Amaral, portanto, não seria uma grande surpresa. Se Marta iria para o posto em caso de derrota, porém, é outra discussão. Existem sérias dúvidas a respeito, a começar pelo interesse da própria prefeita em ficar dois anos fora do País no atual estágio de sua carreira política. Além disso, seria preciso Lula decidir indicá-la para esse posto e não a qualquer outro cargo na Esplanada dos Ministérios, onde a experiência administrativa da prefeita poderia ser mais útil. Entre os diplomatas, o mais cotado para o posto é o embaixador Clodoaldo Hugueney, atual subsecretário para Assuntos Econômicos e Tecnológicos.
Independentemente dessa discussão, está em andamento uma dança das cadeiras no Itamaraty. Está vago o posto de embaixador do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), um cargo que Itamar Franco já ocupou e que, aparentemente, gostaria de voltar a ocupar. O ex-presidente mal disfarça sua insatisfação com a embaixada em Roma. Amorim aguarda um posicionamento do temperamental Itamar, de quem foi chanceler, para movimentar suas peças no tabuleiro diplomático.
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