Há menos de um mês no posto, o embaixador do Brasil em La Paz, Frederico Araújo, brinca com seus assessores que vai importar de Minas uma matilha de lobos-guarás para vigiar os jardins da residência oficial, mansão construída no começo do século XX por um dos barões do estanho e comprada nos anos 50 pelo governo brasileiro. O motivo é igualmente insólito. Há mais de dois anos cerca de 15 bolivianos recusam-se a deixar a pequena casa reservada ao jardineiro da embaixada, que se aposentou e mudou-se para o interior do país. Cada vez maior, esse grupo recentemente passou a usar o gramado como pasto para sua criação de carneiros.
O bom humor do embaixador Araújo oculta a perda da paciência do Itamaraty com essa questão. No gabinete do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o próximo passo já foi decidido. A embaixada deverá recorrer à Justiça boliviana para pedir a remoção dos cidadãos instalados ilegalmente em território que, pelas leis internacionais, é brasileiro. Essa iniciativa responde à reclamação feita pela diplomacia brasileira à chancelaria boliviana, até hoje sem resultado prático.
Os invasores são parentes e agregados do antigo jardineiro que, antes de se mudar, tinha pedido autorização para que seus filhos permanecessem na casa por alguns dias. Desde então, apesar dos pedidos e cobranças, o grupo jamais se moveu dali, aumentou em número e chegou a abrir uma saída "privativa",voltada para a avenida que margeia os fundos da embaixada. Recentemente, o grupo recebeu a pedradas funcionários da prefeitura de La Paz que tentavam tirar as medidas topográficas do terreno – num prenúncio claro da resistência que preparam a qualquer tentativa de expulsão.
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