Em seu primeiro pronunciamento como presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva adotou ontem à noite tom de conciliação, pregou o entendimento com os adversários, disse que vai procurar os governadores e discutir ?logo nos primeiros momentos do segundo mandato a reforma política?.
Depois de um mandato marcado pela mancha do mensalão e do dossiê Vedoin, Lula prometeu aumentar o combate à corrupção. Para ele, a reforma política será o primeiro passo para pôr um fim às irregularidades.
Diante de um painel com os dizeres ?a vitória é do Brasil? e acompanhado de nove ministros, num elegante hotel de São Paulo, Lula vestiu o figurino da pacificação e fez um apelo à união nacional. Disse que o Brasil não tem tempo a perder. ?A eleição acabou. Agora não tem mais adversários, o adversário são as injustiças, vamos lutar para fortalecer o Brasil, o mercado de massa, a exportação.
Num discurso de 17 minutos, foi muito aplaudido ao dizer que a prioridade serão os pobres. ?Continuamos a governar o Brasil para todos, mas continuaremos a dar mais atenção aos necessitados. Os pobres terão preferência no nosso governo.
Ao votar pela manhã na escola estadual Dr. João Firmino Correia de Araújo, em São Bernardo do Campo, o presidente também estendeu a bandeira branca. Disse que procuraria a oposição para costurar as alianças necessárias com o objetivo de discutir os projetos para o Brasil ?com muito mais amor?.
À noite, ao fazer o pronunciamento, Lula afirmou que, desta vez, poderá construir ?algo muito mais forte? com os governadores do que foi tentado em março e abril de 2003, com as reformas tributária e da Previdência. ?Acho que os governadores eleitos têm o perfil de quem quer trabalhar no sentido de compreender que o crescimento do Brasil precisa beneficiar o crescimento de todos.
O presidente reeleito lembrou o seu próprio slogan de campanha para dizer que é de trabalho que o povo precisa. ?Todo mundo na rua fala ?deixa o homem trabalhar?. O Brasil precisa de trabalho e eu estou muito confiante no Brasil, nos partidos que perderam a eleição?, disse Lula, mais uma vez acenando para a oposição.
Uma mulher aparentando estar alcoolizada interrompeu Lula, depois do pronunciamento, quando ele ia responder às perguntas dos jornalistas. ?O senhor falou em combate à fome. E a fome de justiça??, perguntou. Lula não respondeu, mas ela insistiu outras duas vezes.
Ele prometeu uma política fiscal dura , mas ressalvou que os pobres não poderão ter mais encargos. ?Aprendi que não podemos gastar mais do que a gente ganha, senão a dívida aumenta muito e não dá para pagar.
Lula disse ainda que o mais importante para um presidente, ao terminar o mandato, é a relação que consegue estabelecer com a sociedade. ?E isso nós fizemos com muito carinho e vamos continuar fazendo. O Brasil não é meu, é de todos os brasileiros. Por isso estou com a frase na camisa, dizendo que a vitória não é do Lula ou do PT, mas é da sabedoria do povo brasileiro?, disse.
No fim do pronunciamento, a platéia saudou Lula com um ?parabéns a você?. Ele completou 61 anos no último dia 27.