Para os principais dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Venezuela, que está em fase de ingresso no Mercosul, não fará a menor falta caso venha a ser mantida fora do bloco. A opinião, na realidade, passou a ser considerada uma posição oficial da instituição e, tendo em vista o peso da corporação no cenário político-econômico brasileiro e sua influência nos países do Cone Sul, deverá despertar a manifestação dos parceiros do Mercosul e, por óbvio, a reação do presidente venezuelano Hugo Chávez.
O líder bolivariano, que há alguns meses se referia com visível despudor ao Congresso Nacional, chamando-o de ?papagaio? do governo imperialista dos Estados Unidos, por retardar a votação da proposta de ingresso da Venezuela no Mercosul, agora inverteu a tática e passou a tecer elogios aos deputados que aprovaram a matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A expectativa é que, de um momento para outro, Chávez direcione sua metralhadora verbal para a Fiesp, invectivando-a com os impropérios de seu manjado jargão de mentor intelectual do ?socialismo do século XXI?, salvo erro ou engano, uma proposta ideológica que permanece lacrada num hermetismo apenas comparável à pedra filosofal dos alquimistas da Idade Média.
Pela voz do diretor-adjunto do Departamento de Relações Internacionais de Comércio Exterior, Thomas Zanotto, a Fiesp ratificou que ?o Mercosul é um sucesso comercial?, embora a entrada da Venezuela represente a probabilidade de aumento de problemas institucionais já acumulados. Os pequenos ganhos econômicos determinados pela integração da Venezuela ao bloco seriam anulados pelo ?potencial prejuízo político? sustentou a instituição em nota pública.
A presença de empresas brasileiras na Venezuela se faz notar pela exportação de automóveis, a construção das linhas do metrô de Caracas, pela Odebrecht, e ainda pelos investimentos da Petrobras e Vale do Rio Doce nos setores de petróleo e mineração. O referido país é também grande consumidor de produtos manufaturados aqui produzidos.
Nem esse excelente cenário está sendo levado em consideração pelos dirigentes da Fiesp, que vêem na agressiva política externa do presidente Hugo Chávez uma ameaça constante de novos desentendimentos. Nessa preocupação a Fiesp não está isolada, pois a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já se manifestara anteriormente, criticando a Venezuela pela falta de definição dos critérios técnicos do acordo de livre comércio com os países do Mercosul.
