Criadores de suínos no Oeste e no Sudoeste do Paraná dizem que chegaram à situação de “desespero total” por não ter comida para dar aos animais em função da greve dos caminhoneiros. Nas próximas horas, se o alimento não chegar, uma das opções consideradas é soltar os porcos nos trevos das rodovias e no mato para que tenham “alguma chance de sobrevivência”.
“A alternativa vai ser descarregar os animais nos trevos, não tem o que fazer. Vamos largá-los e deixar que se virem para procurar comida. O animal não tem culpa de estar nessa situação. Eu pessoalmente sou a favor de soltar”, diz Jacir Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores.
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O produtor diz que a situação é mais dramática entre os criadores independentes ou integrados a pequenas indústrias, que detêm 30% da produção no estado. “Esses criadores trabalham com menos estoques na granjas. O depósito deles está em cima do caminhão. A situação é caótica, não tem mais onde pegar alimento. Ou a Defesa Civil libera as carretas com urgência, ou eles vão ter que fazer o abate humanitário ou soltar os animais”.
Nas granjas que ainda têm alguma comida, os suínos recebem cerca de 20% do volume que normalmente consumiam – 2 kg por dia. Isso aumenta o estresse e os casos de canibalismo entre os animais adultos e eleva a mortalidade dos leitõezinhos por causa de doenças como diarreia. “Os grandes estão se devorando e os animais menores morrem de diarreia por que já faz uma semana que não se alimentam direito. É mesma coisa que dar só feijão ou só arroz para uma criança de 2 anos. Ela acaba ficando doente”, aponta Dariva.
Protestem em Brasília
Um alerta sanitário foi dado pela Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso. Em nota, a Acrismat diz que “a desnutrição dos animais alojados afeta diretamente o bem-estar animal e coloca em risco a sanidade, já que, sem nutrição, a imunidade cai, abrindo portas para enfermidades”. “Além disso”, diz a associação, “o correto descarte de resíduos de produção está impossibilitado e pode provocar impacto ambiental”. Os suinocultores de Mato Grosso dizem que concordam com a necessidade de medidas urgentes que atendam as reivindicações dos caminhoneiros, “porém, se as decisões são políticas e dependem de Brasília, que o protesto seja feito lá… Fecha Brasília até resolver”.
A nota da Acrismat questiona se os caminhoneiros respeitariam um bloqueio do setor de carnes, se este continuar em crise. “Vão respeitar? Vão ficar paralisados? Ou vão mandar resolver em Brasília e protestar lá: O setor de proteína animal, que tanto contribui para a alimentação da população brasileira, a retomada econômica do país e com o desempenho da balança comercial, enfrenta no Mato Grosso prejuízos gigantescos em vários setores. Se o setor das carnes quebrar, onde os agricultores vão colocar toda produção agrícola?”
No Rio Grande do Sul, outro importante polo produtor de suínos, a associação de criadores, em nota, pediu “encarecidamente ao movimento dos caminhoneiros que se sensibilize e autorize a passagem de cargas vivas e insumos como ração e suplementos nutricionais aos animais que já estão passando fome, ocasionando em mortes e atos de canibalismo”.
A Associação Paulista de Criadores de Suínos fez um alerta para “os graves problemas que poderemos sofrer em função da permanência desse movimento (bloqueios)”. “Todos serão penalizados pela falta de abastecimento, e os prejuízos econômicos, sociais, inclusive, com níveis de desemprego que deverão ser gerados nas próximas semanas, levarão ainda mais a uma desestabilização do país”.
O produtor Jacir Dariva diz a situação chegou a um ponto em que é preciso ter cuidado para entrar numa granja, porque os suínos podem confundir o tratador com comida. O panorama é de desalento. “Tem suinocultores nos ligando e chorando. Você não pode falar com mulher de suinocultor hoje. Elas são mais sensíveis, nem conseguem passar perto da granja e já começam a chorar”, revela.
8º dia de paralisação teve caminhões abastecidos nas refinarias, protestos e muita incerteza. Veja!