Em depoimento, advogado admite ser sócio de preso

Os advogados Eduardo Diamante e Nelson Roberto Vinha, suspeitos de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), prestaram depoimento hoje na superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Diamante admitiu para os integrantes da CPI do Tráfico de Armas que é sócio do presidiário Bruno Cesar Pascini, seu cliente, em uma fábrica de bolas costuradas por presos em seis penitenciárias paulistas. A polícia suspeita de que boa parte dessas bolas, sob o pretexto de que estavam com defeito, voltam às penitenciárias recheadas com drogas, armas e telefones celulares.

Diamante negou o esquema das bolas, mas disse que, além de sócio Pascini, que cumpre regime semi-aberto, foi contratado como estagiário de seu escritório de advocacia. A CPI suspeita que Pascini comande o envio do material para o presídio quando deixa a cadeia, supostamente para trabalhar.

O advogado é suspeito de ter providenciado a entrada de três celulares e de R$ 15 mil para presos da penitenciária de Presidente Venceslau. Na casa do advogado, a polícia encontrou R$ 10 mil. Diamante não convenceu os deputados de que não atue como pombo-correio do PCC. "Ele está firmemente incluso no esquema do PCC. Não diz a origem dos R$ 10 mil encontrados na casa dele e tem ligações com Macarrão, que é o segundo homem do PCC. Acredito que ele seja um dos advogados mais vinculados ao PCC", disse o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE).

Segundo Torgan, Diamante admitiu contatos com um homem identificado pelo advogado apenas como João, que seria um emissário de Macarrão, para providenciar celulares. O advogado disse, no entanto, que foi contratado para fazer "um dossiê de tudo que saiu na imprensa sobre o PCC." "Ele diz que é contratado para recolher as notícias, a pedido deste João", contou Moroni.

O outro advogado ouvido pela CPI ontem, Nelson Roberto Vinha, foi preso em flagrante depois de entregar seis celulares a seis presos, no mês passado, no Centro de Detenção Provisória de Mauá em São Paulo. Vinha, segundo os parlamentares, não tem grande importância no esquema do crime organizado e faz pequenas tarefas. O que impressionou os parlamentares, no entanto, foi a facilidade com que o advogado entregou os celulares e cinco carregadores.

O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), vai pedir o indiciamento dos advogados, para que sejam investigados por crimes como associação para o tráfico e formação de quadrilha. Pimenta vai sugerir mudanças na Lei de Execuções Penais e no estatuto do advogado, para tornar mais rígidas as regras de acesso aos clientes. "Hoje, qualquer preso pode conversar com qualquer advogado, mesmo que não seja seu cliente. A sugestão é que o preso tenha acesso apenas ao seu advogado ou ao advogado que vai constituir, se não ainda não tiver. Estamos convencidos de que a brecha na lei permite que a organização criminosa use os advogados para articular contatos entre os líderes", afirmou Pimenta.

Vinha nega ter levado os celulares aos presos, mas disse aos parlamentares que passou facilmente pelo detector de metais da cadeia, porque estava com uma bolsa tipo pochete que não foi revistada e não passou pelo aparelho de raio X.

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