A anedota lembra a difícil situação em que se encontrou o PT depois da invasão, pelo MST, da fazenda da família do presidente Fernando Henrique Cardoso e de um sócio dos filhos do presidente, em ações que estarreceram a opinião pública nacional, provocaram forte reação das autoridades e criaram turbulências no processo eleitoral que se inicia, arriscando prejudicar a candidatura de Lula.
É possível que Lula e a cúpula petista não sabiam dos planos das invasões. Mas, uma vez que aconteceram e se repetem em todo o País, o PT e Lula ficaram na obrigação de tomar posição. Agora mesmo o MST repete invasões e anuncia outras mais. O ato criminoso das invasões deve ser condenado de imediato, principalmente por Lula e o PT, antes que a opinião pública lhes atribua conivência. O PT e o MST são, sempre foram, farinha do mesmo saco, um movimento político e outro social ou dito social que contam com ideologia comuns. Variadas nuances, as esquerdas têm não só no âmbito partidário, como nos movimentos como o MST e a CUT. Mas isto não descaracteriza a ligação umbilical que mantém entre si.
Para o então ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Arthur Virgílio, Lula pronunciou-se sobre a invasão na fazenda de FHC com “declaração pífia – ficou em cima do muro” e não rompeu com o MST, como deveria como candidato democrata. O presidente Fernando Henrique Cardoso, a vítima, não esconde sua revolta, pois os sem-terra invadiram sua intimidade, chegando até seu quarto de dormir e fazendo uma farra com suas bebidas e até fumando os charutos que ganhou de Fidel Castro, amigo de Lula e ídolo do MST. Mas tem sido comedido, enquanto seu ministro-chefe deu o tom da nova posição do governo: endurecer. Endurecer procurando, inclusive, obter logo a aprovação, pelo Congresso, da medida que proíbe as desapropriações de terras invadidas. Endurecer pode significar mostrar as ligações existentes entre o PT e o MST, mesmo que desta feita, como antes em invasões de prédios públicos, o partido de Lula tenha cautelosamente criticado os excessos de seus aliados líderes sem-terra.
Surge agora a proposta de que o PT, para confirmar sua declarada posição legalista e tendo em vista sua intimidade com as lideranças do MST, sirva de mediador entre o movimento e o governo. O PT rejeita de pronto. O presidente do partido de Lula, José Dirceu, foi tachativo: “O PT não quer. Não vai fazer. Estamos num ano eleitoral e não se deve partidarizar essa questão”. O deputado petista Aloísio Mercadante também foi incisivo: O PT não deve se envolver em uma negociação para esfriar os ânimos. Ficou claro, pois, que o PT e Lula ficarão em cima do muro. Os desgastes da candidatura Lula serão inevitáveis se os eventos forem explorados por seus adversários. Se as promessas de novas invasões de terras, de Norte a Sul do Brasil, forem cumpridas, Lula poderá amargar sua quarta derrota na disputa pela Presidência da República, a menos que consiga apartar sua imagem do MST.