No mundo da moda, ter quadril com mais de 90 centímetros – ou manequim 36 – é ser classificada como gorda e ter dificuldade para trabalhar. Diante dessa realidade, uma em cada quatro modelos apresenta algum sintoma que pode levar a bulimia: comer excessivamente para, em seguida, induzir o vômito; usar laxante ou diurético para eliminar o que comeu; e não ganhar peso. Na população mundial, segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), esse índice é de 3%.
O dado dos 25% é de pesquisa do psicólogo Marco Antônio Tommaso, especialista em transtornos alimentares que já atendeu cerca de 2 mil modelos. Ele é consultor das agências Elite, One e L?Equipe – onde trabalhava Ana Carolina Reston, de 21 anos, que morreu na terça-feira de infecção generalizada causada por anorexia nervosa, à qual a bulimia geralmente está associada. O número de casos de anorexia na população mundial, segundo a APA, é de 1%. O psicólogo estima que entre as modelos o índice fique entre 2% e 4%.
A pesquisa de Tommaso foi feita com 140 modelos maiores de 18 anos e apontou uma conclusão inquietante: apesar de lindas, jovens e magras, 100% estão insatisfeitas com sua imagem e gostariam de perder, no mínimo, 3 quilos. ?Tem cliente que chega no casting (seleção de modelos) com uma fita métrica no pescoço. Se o quadril da menina medir 90,002 centímetros, ela está descartada do trabalho.
Na semana passada, agências de São Paulo se reuniram para discutir como lidar com os casos de transtornos alimentares . Para o psicólogo, o governo também deveria tomar alguma medida. Como fez a Espanha ao proibir que meninas com Índice de Massa Corporal (IMC, que é obtido dividindo-se o peso pela altura ao quadrado) abaixo do considerado normal pela Organização Mundial de Saúde desfilassem na semana de moda de Madri, em meados de setembro. ?A estética está cada vez mais se distanciando da saúde. Quem tem IMC próximo de 24 (manequim 44) é gordinho?, diz.
Até por causa da polêmica causada pela morte de Ana Carolina, bookers (agentes) de grandes agências não assumem ter trabalhado com modelos doentes. Em 30 anos de carreira, Sergio Mattos, booker da 40 Graus – que cuida da carreira de Raica Oliveira, ex-namorada do jogador Ronaldo -, diz nunca ter visto de perto nenhum caso. Mas admite que modelos com mais de 89 cm de quadril ficam sem trabalho.
A booker da Ford Models no Rio, Ana Paiva, concorda que ?modelo tem de ser magra?. Mas diz que a culpa pela exigência da magreza excessiva é dos estilistas.