São Paulo – Este foi o ano em que a ficção televisiva perdeu a preferência do público para um programão da vida real. A transmissão pela TV Senado dos depoimentos dos personagens principais da crise do mensalão subverteu o reality show, para se transformar num dos melhores big brother de todos os tempos.
Com os mais instigantes ingredientes de um folhetim e atores performáticos – o deputado cassado Roberto Jefferson, por exemplo -, a confusão instalada pela denúncia de que os deputados recebiam dinheiro em troca de seus votos no Congresso levou o canal oficial ao auge de popularidade em seus dez anos no ar.
Em julho, a TV Senado superou a audiência de noticiários como o "Bom Dia Brasil" e chegou a bater a audiência do canal GloboNews. O fôlego, no entanto, não durou tanto assim. Logo os depoimentos ficaram repetitivos e a trama começou a se arrastar.
Ao mesmo tempo, a autora Glória Perez tentava tomar a pulso sua América. Milionária e de certa forma megalomaníaca, a novela das 9 horas estreou em 14 de março com a difícil missão de suceder Senhora do Destino – o estrondoso sucesso de Aguinaldo Silva que chegou a fazer 60 pontos no Ibope -, e ainda marcar o aniversário de 40 anos da TV Globo. Marcou mesmo, como uma das novelas mais problemáticas de todos os tempos. Da troca da música de abertura ao abandono do diretor Jayme Monjardim; da acusação de roubo nos bastidores à censura ao esperado beijo gay teve de tudo por ali.
Mas, como ensina Silvio de Abreu, novela que não cria fato naufraga – polêmica pouca neste caso é bobagem. No começo de novembro, América terminou graciosamente e com boa audiência.
Silvio, por sua vez, recebeu missão diferente quando estreou sua "Belíssima" – a de salvar o horário, ainda cercado pela polêmica sobre o não beijo gay de América. Bem acompanhado que só ele, o autor apareceu com uma espetacular Fernanda Montenegro, de volta à TV como a megera Bia Falcão. Redondinha em tons de branco e azul, fez o povo esquecer daquela Sol marrom em dois tempos.
Muito bem embalada, "Prova de Amor" faz bonito também, na TV Record. Recheada de atores globais, como Lavínia Vlasak e Marcelo Serrado, a novela das 7 anda tendo picos de 18 pontos no Ibope e pode impulsionar, enfim, uma indústria de novelas paralela à supremacia da Globo. Será que é desta vez?
"Prova de Amor" beneficia-se do fator "Bang Bang". Com Fernanda Lima no papel principal, a novela segue ancorada nos personagens de Kadu Moliterno e Evandro Mesquita, que chegam a dominar alguns capítulos. Há de se descobrir por que a emissora insiste em lançar modelos como protagonistas.
