Lúcida, oportuna e instrutiva a entrevista da socióloga Fátima Pacheco Jordão, diretora de pesquisa da TV Cultura, publicada por O Estado de S. Paulo, na edição de domingo. Leitura imprescindível nesses tempos de mensalão e sanguessugas, em que entidades emergidas dos esgotos da vida pública pintam e bordam. Mais ainda para candidatos a cargos majoritários e proporcionais e, principalmente, seus especialistas em marketing político. Aliás, de alguns anos a esta data, atividade confiada aos mesmos profissionais notabilizados pela hipertrofiada atuação no aumento das vendas de cerveja, aparelhos de barbear e outros itens menos nobres.
Interpretando a última pesquisa Ibope, na qual Lula venceria se a eleição tivesse ocorrido na semana passada, Fátima Pacheco Jordão advertiu que o Lula-candidato ainda não apareceu e isso vai acontecer apenas durante a campanha, insinuando que barbas devem ir para o molho, tendo em vista que a ?volatilidade do voto poderá não confirmar o favoritismo do presidente?. Diz ela que a população de baixa renda começa a enxergar o processo das denúncias, ?tanto que já ligou Lula ao mensalão, no sentido de que ele sabia dos escândalos e, por isso, tem sua parcela de responsabilidade. Mas essa conexão só deve clarear a partir do horário eleitor al?.
Na outra ponta, a socióloga ensina que o Congresso acaba sendo a imagem fiel do eleitor e não por acaso é a instituição com a pior avaliação do País. Diante disso, o eleitor está mais precavido que em eleições anteriores, podendo causar desagradável surpresa a muitos candidatos à reeleição.
Sobre o índice elevado de indecisos (38%), Fátima assinala que a grande maioria é de mulheres que têm na TV o principal instrumento para comparar e definir o voto. Uma dica preciosa está na declaração que ?até a véspera da eleição ainda sobram 10% de indecisos?, dos quais 65% são mulheres: ?Se as eleições estiverem definidas a partir de pequenas percentagens, são as mulheres que decidem?.
A telegenia é mais importante que o carisma dos candidatos e os debates mais eficientes que showmícios, banidos da campanha atual para estratificar a escolha do eleitor. Lembrete importante de Fátima: quem deixa a cadeira vazia no debate nunca é esquecido…