O arranjo das alianças nacionais poderá provocar constrangimentos aos dois candidatos que disputarão o segundo turno para o governo do Ceará: o tucano Lúcio Alcântara, que obteve 49,8% dos votos válidos, e o petista José Airton Cirilo, com 28,3%. Lúcio ainda não declarou em quem pretende apoiar para a presidência da República. Mas, “como homem de partido” – a exemplo do que tem dito o seu líder político, Tasso Jereissati -, deverá optar por José Serra. Isso, apesar de ter mais simpatia por Lula, a quem diz admirar e para quem já fez campanha em 1989, no segundo turno contra Fernando Collor de Mello.
Lúcio terá ainda como desafio superar a inexpressiva votação de 8,53% obtida por Serra no Estado. Além de enfrentar a militância engajada do PT, principalmente na capital, onde Lula venceu até Ciro Gomes, ex-governador cearense, em número de votos.
O petista José Airton passará pela a antagônica situação de trazer o presidenciável Ciro Gomes para apoiar Lula – como a direção nacional do partido determinou – e, ao mesmo tempo, em nível estadual, desbancar Tasso, amigo e padrinho político de Ciro. O grupo de Tasso mantém uma hegemonia no Estado há 16 anos. A simples ida para o segundo turno, é vista pelos petistas como uma “conquista histórica”.
Depois de consolidada a situação no Ceará, Lula ligou para José Airton para parabenizá-lo e dizer que estará no Estado nos próximos dias para ajudá-lo na campanha. “O presidente nacional do PT, José Dirceu, também virá”, informou José Airton.
De acordo com seus assessores, Lúcio passou o dia descansando e deverá se reunir ainda hoje com Tasso e o atual governador do Ceará, Beni Veras, para fazer um balanço do primeiro turno e elaborar estratégias para o segundo. Ele deverá falar com a imprensa só amanhã (terça, 8). O clima no comitê tucano, era de desolação.
Enquanto isso, no comitê de José Airton a segunda-feira foi de festa.
À tarde, o candidato, acompanhado por toda a cúpula estadual petista, concedeu entrevista coletiva. O coordenador de campanha de Lula no Ceará, José Nobre Guimarães, irmão de José Genoíno – que disputa o segundo turno em São Paulo contra o tucano Geraldo Alckmin -, informou ter sido orientado para “unir todos os esforços” para atrair Ciro para a campanha de Lula. Questionado se isso não poderia custar a disputa estadual, já que Ciro é aliado histórico de Lúcio, Guimarães foi enfático: “A candidatura de José Airton é inegociável”.
Além da ida de José Airton e de Lula para o segundo turno, os petistas cearenses estão eufóricos com que chamam de “grande derrota de Tasso”. Isso porque, conforme análise de Guimarães, o ex-governador cearense sai desse primeiro confronto enfraquecido. “Se houve um grande derrotado, politicamente, no Ceará, foi Tasso Jereissati. Além de não conseguir eleger Ciro Gomes, ele ainda não foi o senador mais bem votado do Brasil, como pretendia”, disse o petista, apontando, em seguida, que o candidato do Senado pelo PT, Mário Mamede, apesar de não ter sido eleito, bateu o tucano em Fortaleza.
No início da campanha, as pesquisas apontavam que Tasso seria eleito com mais de 70% dos votos. Ele acabou obtendo 31,5%. A outra vaga ao Senado foi preenchida por Patrícia Gomes (PPS), ex-mulher de Ciro, apoiada pelo ex-governador cearense numa aliança informal do PPS com o PSDB. Mas, ao contrário do que previam as pesquisas que lhe atribuíam mais de 50% das intenções de voto, ela obteve 30,7%. Para a Câmara Federal, o grupo de Tasso elegeu dez deputados. Na nova Assembléia estadual, ele terá maioria com 24 aliados contra 22 de outros partidos.