Eleição na Câmara

A vitória apertada de Aldo Rebelo para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, superando o seu contendor, José Thomaz Nonô, por apenas quinze votos, pode significar uma vitória do presidente Lula. Mas pode significar, também, um novo risco para o chefe da nação, já ameaçado pelos escândalos que atingiram o seu partido, o governo e aliados.

Aldo Rebelo, do PCdoB-SP, recebeu apoio escancarado do Palácio do Planalto, com apelos pessoais e de emissários de Lula. E verbas. Verbas orçamentárias da quota parlamentar, dinheiro que prometem será extraído do corpo do orçamento para atendimento a paróquias eleitorais dos que, negociando o voto, concordaram à última hora em sufragar o candidato chapa-branca.

Rebelo, apesar de ser do PCdoB, o partido brasileiro da linha do comunismo albanês, diante do qual o stalinismo parecia um mar-de-rosas, apresenta-se no parlamento brasileiro e foi, como ministro do governo petista, um homem manso, cordato e dado à negociação. Começou sua vida pública num cargo diretivo da União Nacional dos Estudantes, foi vereador na capital paulista e por quatro vezes deputado federal. Já foi do PMDB.

Nos mandatos anteriores não teve destaque e não seria exagero considerá-lo um parlamentar do baixo clero ou a ele muito próximo. Ganhou maior notoriedade na administração Lula, quando foi ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, além de líder do governo na Câmara. Essas posições sempre foram consideradas do desagrado de José Dirceu, pois competiam com seus superpoderes no PT e no governo. Por mais de uma vez, como ministro, Rebelo teve sua posição ameaçada em razão desse confronto.

A vitória de Rebelo é uma vitória de Lula e um troco para o golpe duro que recebeu quando seu candidato perdeu as eleições para a presidência da Câmara para o desastroso e desastrado representante do baixo clero Severino Cavalcanti.

Essa vitória, com Rebelo, precisa ainda ser conferida. Pelo empenho de verbas disponibilizadas pelo presidente da República, dá a impressão que Lula acredita poder continuar a interferir nos trabalhos do Congresso, o que é antidemocrático, mas prática comum e do estilo do atual governo. Pelo discurso de Rebelo, tal não acontecerá, pois ele promete independência, defesa intransigente da harmonia e autonomia dos poderes. E para selar esse compromisso, declara que não fará tramitar propostas do Executivo enquanto matéria similar de iniciativa de deputados esteja em apreciação.

A derrota de Nonô feriu a oposição, tanto mais porque o deputado alagoano pertence ao PFL, partido adversário intransigente de Lula e do governo. E partido disposto até a pedir o ?impeachment? do presidente. As promessas de verbas vindas do Planalto em favor de Rebelo revoltaram a oposição e até elas poderiam ser motivo para esse possível pedido de impedimento. Se Rebelo se comportar como pau-mandado de Lula e os escândalos da política nacional, que não acabaram, continuarem, poderá acontecer o pedido de ?impeachment?. Provavelmente não será bem-sucedido, pois faltam condições políticas e apoio popular. Mas, uma vez tentado, no mínimo conseguirá um objetivo que satisfaz as oposições: o desgaste de Lula a ponto de inviabilizar sua candidatura à reeleição. E impossibilitar a permanência do PT, hoje desmantelado, no poder.

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