Eleição eletrizante

O que parecia impossível há poucos dias poderá tornar-se realidade após a contagem dos votos no dia 1.º de outubro: segundo turno nas eleições do presidente da República e do governador do Paraná. Mesmo sem a prova cabal dos índices apurados pelas pesquisas divulgadas na semana passada, há indicativos suficientes para não subestimar a idéia da segunda rodada para definir – em ambos os casos – quem será o ungido pela vontade popular.

O próprio Lula, ao avaliar o abalroamento de sua perspectiva de reeleição com a descoberta do dossiê contra Serra, armado por um grupo de servidores com espaço de manobra no Planalto, estatais importantes como o Banco do Brasil ou na articulação logística da campanha (há quem chame isso de ?inteligência?), passou a considerar a hipótese do segundo turno. Aliás, castigo merecido para quem se dispôs a representar papel não condizente com a magnitude do cargo maior da República, a cuja instância devem chegar todas as informações, sejam elas boas ou más.

É óbvio que o eleitor não se deixou iludir pelo machismo de fancaria e a degola dos subservientes robotizados pela proximidade com o poder, entre eles um que assava o pitéu e outro encarregado da segurança do presidente e seus familiares. Desta vez a patota se excedeu e a súbita migração para o tucano, apesar das tergiversações e da aleivosia da comparação entre Lula, Jesus Cristo e Tiradentes, representa a taça de fel estendida pelos Iscariotes ao atarantado chefe. Mesmo a demissão e os epítetos lançados aos ex-amigos não convencem, pois a atitude é diametralmente oposta à lerdeza empregada para dar sobrevida a José Dirceu e Palocci, afinal defenestrados ante provas irrefutáveis de desvio de conduta.

Assim, se ocorrer a virada de mesa, não haverá surpresa para ninguém. O mesmo pode acontecer no Paraná, face à conjunção totalmente inesperada pelo favorito nas pesquisas, com a prisão do policial Délcio Razera, designado para prestar serviços na Casa Civil. O fato em si seria corriqueiro, não fosse a gravidade da acusação feita ao servidor pela Procuradoria de Investigação Criminal (PIC), órgão do Ministério Público estadual: escuta clandestina de telefonemas alheios, incluindo autoridades, posse de incrível quantidade de armamento pesado e fornecimento de informações de cocheira como subsídio à compra governamental de equipamentos utilizados em grampos telefônicos.

Apresentando-se como assessor do governador, após a prisão Razera passou a ser tido como renegado. Ao depor, não escondeu a condição de bisbilhoteiro de conversas de interesse do governo e tampouco a ligação com o governador. Situação agravada, sobremaneira, pelo pedido de quebra do sigilo telefônico de repórteres de dois respeitáveis jornais, atribuindo a outrem o clamoroso abuso cometido sob os reposteiros palacianos. Em resumo, recurso digno dos esbirros da Pide, a polícia política do troglodita português Oliveira Salazar.

A avaria no favoritismo dos candidatos à reeleição é inegável, e o clima de vitória no primeiro turno mostra sinais de fadiga. Os poucos dias até a eleição serão angustiantes para os lados do bunker da Silva Jardim e de intensa animação na casa-navio da Itupava. A campanha, que só despertou o eleitor nos últimos dias, deverá levar o rótulo da mais eletrizante dos últimos tempos.

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