Cumpriu-se a profecia de Vargas com a eleição em 27.10.2002, 2.º turno, de Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da nação (depois de três frustradas tentativas anteriores). Getúlio profetizou, em discurso proferido na cidade de Porto Alegre, em 20 de setembro de 1952, quando exercia seu último mandato presidencial, que os trabalhadores chegariam ao poder através do voto.
Ele antecipou que apareceriam novas lideranças sindicais:
“Estou certo de que dos embates eleitorais nos sindicatos resultará o fortalecimento do espírito democrático da classe trabalhadora. Muitos líderes novos surgirão, compenetrados da sua missão de harmonia social e de recuperação econômica da nação.”
Um novo líder, Luiz Inácio Lula da Silva, despontou em meados da década de 70 como dirigente sindical dos metalúrgicos dos municípios do ABC paulista, comandando justas reivindicações salariais e deflagrando greves pacíficas, em plena vigência do regime discricionário.
Em 1980, coadjuvado por forças populares e figuras da intelectualidade, Lula criou o Partido dos Trabalhadores que nunca deixou de crescer em número de filiados e de eleitores em sucessivos pleitos, culminando agora com a eleição da maior bancada de deputados federais, 91, e de 10 senadores.
Getúlio Vargas vaticinou a conquista do poder pelos trabalhadores, nesse memorável pronunciamento:
“Mais do que tudo, porém, impõe-se a vossa preparação definitiva, trabalhadores do Brasil, para participar efetivamente no Governo através do voto livre. Nas democracias, o governo se constitui pelo voto da maioria; e vós sois incontestavelmente a maioria do povo brasileiro. Só com a conquista do poder tereis oportunidade para empreender a grande reforma, alicerçada em bases de segurança econômica e justiça social.”
“Hoje, estais no governo, amanhã, sereis o governo”, completou Vargas em outra oportunidade.
Com sua incomparável sabedoria política, Vargas nessa fala traçou até a linha ideológica a ser seguida para a caminhada vitoriosa dos trabalhadores.
“Não afagamos a utopia de uma sociedade sem classes, mas almejamos o porvir de uma sociedade onde não existam privilégios ou monopólios de classe. Queremos a cooperação harmoniosa e cordial, em termos de igualdade e de respeito mútuo, entre o capital e o trabalho; um florescendo livremente no vasto campo oferecido à sua iniciativa criadora, e o outro, ao abrigo da insegurança e da opressão econômica, beneficiando-se de uma justa partilha dos frutos do empreendimento comum.”
A pregação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva norteou-se, com o auxílio do marqueteiro Duda Mendonça, por essa filosofia de aperfeiçoar e humanizar o capitalismo, defendendo com firmeza o crescimento econômico, mais emprego, erradicação da miséria e melhor distribuição das riquezas produzidas.
O ideário nacionalista de Vargas foi uma bandeira também desfraldada por Lula ao propalar a construção pela Petrobras de outras refinarias e de plataformas de petróleo em estaleiros no Brasil e ao abraçar a tese de preservar e fortalecer Furnas, Eletronorte, Chesf, Eletrobras, Amazônia, Banco do Nordeste e Banco do Brasil.
Mostrando maturidade para enfrentar os graves problemas do país, causados pelos juros altos, enorme endividamento interno e externo, desenfreado aumento do desemprego e índices absurdos de delinqüência, Lula pregou a necessidade de mudar os rumos administrativos do país, ao mesmo tempo que assumiu compromissos explícitos com o equilíbrio das contas públicas, com o cumprimento de contratos e obediência aos acordos internacionais, celebrados pelo atual governo.
Meio século depois da predição de Vargas, um operário e líder sindical vai usar a faixa de presidente da República.
Léo de Almeida Neves é suplente do senador Roberto Requião, ex-deputado federal pelo Paraná e ex-diretor da CREAI do Banco do Brasil.