Dificilmente eu recebo notícias que me entristecem. Porém, sempre existe a oportunidade. Ninguém está isento disso.
Retornava das férias, quando fui convocado para participar da solenidade de posse, no Palácio Iguaçu, dos novos delegados, escrivães e investigadores.
Um pouco adiantado no horário, caminhava nostálgico nas proximidades do centro cívico, pois por ali transitava constantemente quando estudante e advogado.
Durante as férias no litoral, em diversas oportunidades lembrei-me do Celso Ribas, principalmente em razão de uma tela a óleo que ficou comigo quando do encerramento do nosso escritório. Eu estava nesse momento passando ao lado do Tribunal do Júri.
Pensei em dar um abraço no padrinho, já que não o via há muito tempo.
Ao me aproximar da entrada, notando que o prédio estava em reformas, dirigi-me à policial militar que guarnecia o local, e perguntei-lhe onde estava localizado o gabinete do Dr. Celso Ribas.
A miliciana, com um olhar desconfiado e voz embargada, sem “rodeios”, respondeu-me:
“O Dr. Celso Ribas faleceu”.
Insisti.
“Não meu anjo, falo do promotor de justiça Celso Luiz Peixoto Ribas.”
Replicou-me:
“Senhor, o Dr. Celso Ribas faleceu já faz uma semana.”
O que foi confirmado, ali mesmo, por outra pessoa, talvez funcionário do fórum.
Fiquei perplexo, paralisado, não querendo acreditar.
Ali mesmo, no Tribunal do Júri, sua segunda casa, comecei a rever a forma em que conheci o Celso Ribas.
Isso aconteceu nos idos de l983, quando estagiava na Assistência Judiciária, da Mateus Leme, sob a coordenação do querido Paulo Rocha.
Celso Ribas era professor de Prática de Processo Penal, e já se destacava como advogado e professor, colaborando na época com a implantação do estágio, assim como os professores Jacinto de Miranda Coutinho e Jorge Azor.
Logo em seguida o professor Ribas atuou dativamente como advogado de defesa no famoso júri do caso “Paranguinha”.
Eu e muitos estagiários passamos a assistir todos os júris em que atuava, assim como comumente fazíamos quando atuavam “medalhões” tais como Mario Jorge, Élio Narezi, Rolf Koerner Júnior, Osmam de Oliveira, Lair Ferreira, e muitos outros. Naquele período o Tribunal do Júri era presidido pelo extraordinário magistrado Ronald Grollmam.
No último período do curso de Direito (1986) fui aluno do professor Ribas e logo depois, por culpa da professora Julieta e dele mesmo, passei a ser o seu colega de magistério, ministrando Direito Penal I e II.
Celso Ribas era um professor dedicado, estudioso e muito rígido. Não gostava de dar aula no período diurno. Dizia que levantar cedo ia contra a sua natureza. Preferia preparar suas aulas e defesas durante a noite.
Em 1990, após uma série de acontecimentos, resolvemos, durante um jantar na sua casa, local que ele mais se sentia bem, e na companhia dos tios de Brasília e motivados pela sua mãe dona Ohyla, montarmos um escritório em sociedade, o qual ficaria na rua Ébano Pereira, 60, no Edifício Central.
Por sinal, no mesmo edifício, esteve localizado o escritório do saudoso Dr. Guilherme Lara, a quem o Celso Ribas citava freqüentemente.
Nosso melhor cliente era o magistério, razão pela qual resolvemos fazer concurso público.
O Celso Ribas foi destacadamente um dos melhores candidatos. Trabalhou em Coronel Vivida, Umuarama, Londrina, mas logo foi convocado para retornar para Curitiba para atuar no Tribunal do Júri. Alguns comentaram que ele não teria o mesmo desempenho no papel de acusador.
Enganaram-se profundamente.
O promotor de justiça Celso Ribas não acusava por acusar. Sempre perseguia uma causa. Convencido, os seus argumentos eram inesgotáveis. Era intransigente, em busca da justiça.
O Dr. Celso Ribas faz parte da galeria dos melhores oradores do Tribunal do júri de Curitiba, palco onde se destacaram nomes como Osmam de Santa Cruz Arruda, Adilsom Amaro Alvez, Edilberto Trovão, Celso Carneiro do Amaral, Munir Gazal, Francisco Monteiro Rocha e tantos outros.
Conheço tantos episódios do Ribas, que só poderei revivi-los com os amigos da boca-maldita, local onde sua presença era sempre aguardada. Depois que ele chegava, nos obrigava a ouvir o seu semanal relatório profissional. Sempre era o ultimo a chegar, o penúltimo era o Dr. Sérgio Aragão.
Tenho certeza que a tristeza que sinto não é somente minha.
O mesmo acontece com o Edson Abdala, José Guilherme Assis, João Gualberto Garcez Ramos, o dr. Augusto de Pato Branco e a dra. Lurdinha. Sem exceção, todos os seus ex-alunos do Prado Velho (PUC), onde ele dedicou o seu magistério, sentirão muitas saudades.
Resta-me gabar agora que fui o mais privilegiado. Tive Ribas como professor, amigo, sócio e padrinho do meu casamento com a Denise.
Outro professor o substituirá, certamente. O Ministério Público designará outro promotor de igual qualidade técnica.
Mas ninguém o substituirá no coração da melhor amiga e companheira, dona Ohyla.
Que Deus a conforte.
Luiz Gilmar da Silva
é delegado de Polícia em Umuarama-PR.